OPINIÃO

Apaixonados pelo reino!


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O início de um novo ano descortina para nossa vida e missão um horizonte repleto de possibilidades e desafios. Nesse instante de pausa reconciliadora que as férias do ano civil suscitam, é importante refletir sobre o sentido e a direção para onde vamos. Ninguém deve começar um percurso sem antes ter em mente onde se deseja chegar. Nesse sentido, gostaria de propor, para esse período de férias e descanso, uma singela contribuição sobre como devemos nos preparar pessoal e pastoralmente para adentrarmos mais um ano no caminho do Reino. Trata-se de nos colocarmos três perguntas fundamentais: somos apaixonados ou rotineiros naquilo que fazemos? Carregamos pesos inúteis ou estamos leves para caminhar? Desejamos ardentemente o fim para o qual fomos chamados ou nos apegamos iludidos às belezas transitórias do percurso?

Para responder à primeira pergunta, gostaria de trazer à reflexão algumas palavras do nosso querido Papa Francisco, proferidas por ocasião da mensagem de Natal para os funcionários da Cúria Romana: "Hoje a dificuldade é transmitir paixão a quem já há muito tempo a perdeu. À distância de sessenta anos do Concílio, ainda se debate sobre a divisão entre progressistas e conservadores, mas esta não é a diferença: a verdadeira diferença é entre apaixonados e rotineiros". Isso revela o discípulo e o funcionário. O discípulo avança pelo caminho porque age apaixonado pelo Reino. Um dos riscos que as polarizações difundidas massivamente pelas redes sociais promovem é reduzir o discípulo ao tamanho da rotina. Afinal, a ilusão de uma pastoral de práticas repetitivas nos instala numa zona perigosa de conforto na qual a missão se reduz a um mero cumprimento de tarefas. Nelas, o anúncio corajoso do Reino se submete a silenciosos e difusos procedimentos de vigilância. Hoje, o murmúrio da divisão que cresce na Igreja brota da substituição da paixão pela rotina, do desencontro do discípulo com Mestre e do apego a uma proposta de evangelização reduzida às formas ao invés do encontro autêntico com o Senhor. Quem se encontra verdadeiramente com o Senhor se apaixona, pois Ele é a fonte de todo Amor.

Às vezes, quando nos preparamos para mais um ano de missão, enchemos nossas pastorais e movimentos de tantas atividades, reuniões e compromissos que sobra pouco tempo para aquilo que é o essencial. O encontro é substituído pela tarefa: Por isso, precisamos aprender a conciliar previdência com providência! É bem diferente ser funcionário e ser discípulo. Por isso, nesse novo ano, vale a pena reservar espaço em nossa "mala" de atividades pastorais para caber aquilo que é imprescindível: o lugar do encontro pessoal, do afeto, da vida vivida alegremente na partilha daquilo que é mais comum ao ser humano, sua imprevisível possibilidade de encontro!

Por fim, retomo as palavras do Papa dirigidas à Cúria Romana e que cabem perfeitamente também para nós: "Os medos, a rigidez, a repetição dos esquemas geram uma situação estática, que tem a vantagem aparente de não criar problemas - quieta non movere -, mas levam-nos a girar sem resultado nos nossos labirintos, penalizando o serviço que somos chamados a oferecer à Igreja e ao mundo inteiro. Permaneçamos vigilantes contra a fixidez da ideologia, que muitas vezes, sob a aparência das boas intenções, nos separa da realidade e impede de caminhar. A vida é sempre superior à ideia". O fim para o qual fomos chamados é sempre o Reino. O discípulo mergulha na realidade. E sabe que a meta para onde sua vida caminha é o próprio Mestre.

Desejo a todos e todas um fecundo ano novo, repleto de vida, encontros e esperança! Aquilo que vem tem uma força irresistível! Que a paixão pelo Reino prevaleça sobre as nossas rotinas! O Senhor caminhará conosco!

Dom Arnaldo Carvalheiro Neto é Bispo Diocesano de Jundiaí (verboadm@dj.org.br)

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