OPINIÃO

Entregue-se ao fluxo de abundância

Por |
| Tempo de leitura: 3 min

Outro dia mesmo eu e um grande amigo discutíamos animados sobre a abundância. Ele é uma pessoa muito próspera, inclusive muito o admiro por isso, tendo enfrentado na vida eventos que poderiam ser considerados como "uma pedra no caminho" pela maioria das pessoas, mas ele só os utilizou como degraus para uma escada mais alta.

"Abundância" disse ele, "é um grande desafio para mim e será o meu trabalho em 2024!" Fiquei de imediato pasmo! Como assim? Quando o indaguei mostrando minha surpresa e um pouco de indignação ele me explicou:

"A abundância é um fluxo que sai do padrão comum de troca que observamos em relações energéticas comuns. Ele depende de uma habilidade muito especial de quem a recebe: a Entrega. Ao entregar-se inteiramente ao fluxo de energia, a abundância chega até você espontaneamente, mas normalmente de onde nunca esperamos.

"O que grau de entrega deve ser absoluto na mente de quem a prática, de modo que em nenhum momento ocorram preocupações com as suas necessidades, pela certeza de que tudo o que se precisa aparece na medida certa, quando se faz necessário".

"Caramba!" - pensei - "Acho que tenho que trabalhar a minha abundância também!". Sou uma pessoa que se entrega facilmente ao fluxo diante das grandes questões da minha vida, mas acho que não a este ponto.

Contudo, descobri que não é bem verdade. Podemos nos entregar sim, cada vez mais, quando mantemos essa atitude de forma consistente na nossa vida. Vou explicar com um exemplo, sob medida.

Caiu no meu colo, uns dias depois deste diálogo, uma história atribuída a Franz Kafka, que não fui a fundo verificar se era mesmo verídica. O conteúdo, no entanto, me encantou e, como escritor, gostaria que ela fosse mesmo verdade, pois mostra como ele se entregou a uma realidade adversa e dela adveio abundância de amor e gratidão.

Dizem que Kafka, que não se casou e não teve filhos, encontrou certa vez uma menina chorando em um parque de Berlin. Ao conversar com ela, descobriu que havia perdido uma boneca e, mesmo ambos procurando, não conseguiram encontrá-la. Kafka combinou de se encontrar com ela no mesmo parque, no dia seguinte, para continuar a busca, mas, ao invés disso, trouxe com ele uma carta, cuidadosamente escrita à mão, proveniente da própria boneca, que utilizara o endereço dele para enviá-la à menina.

Nela, a "boneca" dizia para a menina que não chorasse mais, pois ela havia partido em uma viagem para conhecer o mundo e que enviaria cartas para ela contando suas aventuras.

A menina ficou encantada e muito feliz. Conta-se que houve muitos encontros depois, sempre com uma nova carta contando das andanças da boneca pelo mundo. Um certo dia, ele retornou com uma boneca e a deu para a menina, dizendo que a amiga dela havia retornado (Kafka a havia comprado, claro).

"Ela não se parece em nada com a minha boneca" disse a menina ressabiada. Ele logo mostrou a última carta da boneca, onde dizia que a longa viagem e tudo que ela viveu a haviam transformado para sempre. A menina aceitou e mais uma vez ficou muito contente, em um longo abraço, eles três.

Kafka morreu cerca de um ano após.

A menina muito tempo depois, descobriu um bilhete escondido na roupa da boneca, assinado pelo próprio Kafka que dizia: "Você provavelmente vai perder tudo o que você ama, em algum momento da vida. Contudo, o amor vai voltar para você, de uma outra forma".

Alexandre Martin é médico especialista em acupuntura e com formação em medicina chinesa e osteopatia (xan.martin@gmail.com)

Comentários

Comentários