Reeditei partes de um texto publicado na versão online deste jornal em dezembro de 2022 e que continua completamente atual.
Se no artigo passado usei como ilustração teórica a síndrome de Grinch, sobre um personagem verde ranzinza que rouba os presentes para acabar com o Natal de todos, neste abordo novamente a síndrome de transtorno afetivo sazonal, agora ampliando alguns pontos de vista e com outro recorte, mais aprofundado.
Dezembro e sua renovação de promessa festiva acaba de iniciar. Enquanto a grande maioria das pessoas se sente alegre e animada pela chegada da época de festas e comemorações do encerramento do ano logo mais dia 31 para quem segue o calendário gregoriano, quem é atingido pelo fenômeno psíquico costuma ficar triste, apático, estressado e ansioso ou apresenta outros sentimentos fortemente negativos, tendo verdadeira aversão a esses momentos.
Recapitulando o já citado na leitura anterior, o mal-estar pode vir de vários episódios traumáticos pelos quais as pessoas passaram, como perdas irreparáveis ou brigas em família. Mas grande maioria dos casos, no entanto, vem de um lugar pouquíssimo comentado e discutido, que são as micro agressões sofridas durante os 365 dias por pessoas do convívio, gerando um acúmulo de stress no sistema nervoso que culmina com organização sintomática dos comportamentos de rejeição, seja os dirigidos a pessoas e parentes ou às celebrações.
Entende-se por micro agressões aquelas também chamadas de passivo agressivas, como indiretas, memes, ofensas em "tom de brincadeirinha", palavras e atitudes que desqualificam o ser humano por suas escolhas de vida que não correspondem à expectativa da maioria, bem como as conhecidas fofocas de plantão.
Por terem dificuldade em se manifestar, os chamados "antissociais" remoem-se em culpas sem fim e acabam violando os próprios limites ao comparecer, colaborar, participar das infinitas trocas de presentes mesmo com alto grau de contrariedade manifestada por sorrisos amarelados e conversas monossilábicas. Tudo isso apenas para não terem que conviver com o julgamento e os olhares de reprovação alheios. Muitos buscam fuga na comida ou no álcool, opção que muitas vezes não termina nada bem. Aqui temos o combo completo da síndrome do agradador.
O que fazer então? A receita é o respeito às individualidades! Sua e as dos outros! A pessoa não quer participar? Deixei-a! Não quer estar presente? Deixe-a! A maior prova de respeito e empatia está em aceitar as pessoas como elas são. Afinal, todos estão exercendo o seu legítimo direito de não fazer o que não sentem vontade apenas para agradar quem quer que seja.
O mesmo vale para crianças. Ao ser obrigada a abraçar, beijar, sorrir, cumprimentar indistintamente, a criança pode tornar-se um adulto com extrema dificuldade de estabelecer vínculos duradouros ou identificar abusadores. Em geral os adultos as obrigam a fazer isso para sentirem alívio de consciência, pelo temor de serem julgados pelos outros adultos como alguém que não soube educar os filhos para serem receptivos e simpáticos.
E que não se confunda nenhuma das possibilidades anteriores com falta de educação ou de respeito. Afinal, qual é a relação menos nociva? A que é simpática mas artificial e mentirosa ou aquela que é autêntica? Vale a reflexão!
Márcia Pires é sexóloga e gestora de RH (piresmarcia@msn.com)