Quando a inflação atinge um patamar próximo de 150% ao ano, como é o caso da Argentina, os Agentes Econômicos - governo, empresas e os trabalhadores, poupadores e consumidores - perdem a escala de valores em relação aos preços das mercadorias e serviços; a lucratividade das empresas; a rentabilidade dos ativos financeiros e o valor dos imóveis. Inevitavelmente, agem para se proteger dos danos provocados pela inflação e, assim, de forma sucessiva, acabam perpetuando a inflação, em patamares mais elevados.
O ato seguinte é a hiperinflação, com a paralisia do "mecanismo do mercado", que ocorre com o aumento da demanda agregada e, ao contrário, com a acentuada queda da oferta agregada - os preços explodem.
O fato de dolarizar a economia, como propõe, em princípio, o presidente eleito, Javier Milei, não significa que a inflação vai cair drasticamente. Ela pode sim cair, a depender de um conjunto de ações coordenadas e difíceis de serem implementadas, para que se tenha sucesso.
O primeiro obstáculo é que o país não tem o "poder liberatório" de emitir dólares e, consequentemente, como fica os "meios de pagamento", em nível necessário para lastrear as transações econômicas, considerando, inclusive, que a Argentina somente possui US$ 35 bilhões de reservas internacionais e não dispõe de dólares para pagar as suas importações.
A entrada líquida de dólares em uma economia depende de saldos favoráveis na Balança Comercial; no balanço de serviços e nas Transferências Unilaterais (donativos), para ter um saldo positivo resultante, em Transações Correntes. Depende ainda de um saldo positivo no Balanço de Capitais, principalmente em relação aos investimentos diretos dos estrangeiros. Só assim o fluxo de dólares e outras cambiais cresce no país.
A dolarização tem que vir acompanhada de uma decisão da política cambial do país: se câmbio fixo ou câmbio flutuante e, logo em seguida, após essa escolha, a definição da taxa de câmbio - dólar x peso argentino, como partida do plano econômico.
Já ocorreu, em passado não tão distante, na Argentina, um processo do chamado "Bimetalismo", funcionando, paralelamente, nas transações econômicas com a utilização do peso argentino ou do dólar.
Como o câmbio fixo foi implementado, numa paridade fixa - dólar x peso -, o país registrou uma inflação em dólar que reduziu substancialmente as suas exportações e, ao reverso, estimulou as suas importações. O país ficou sem dólares e não pagou grande parte da sua dívida externa, inclusive com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
Messias Mercadante de Castro é professor de economia, membro do Conselho de Administração da DAE S/A e Consultor de Empresas (messiasmercadante@terra.com.br)