PARLAMENTO

Trabalhar pela oposição é difícil, diz deputado do PT

Por Mariana Meira | Jornal de Jundiaí
| Tempo de leitura: 3 min
JORNAL DE JUNDIAÍ
Maurici foi vereador e prefeito do município de Franco da Rocha
Maurici foi vereador e prefeito do município de Franco da Rocha

Fazer parte de um grupo de apenas 18 deputados estaduais do Partido dos Trabalhadores (PT) em uma gestão comandada por um Tarcísio de Freitas (Republicanos) alinhado com a linha política deixada por Jair Bolsonaro (PL) não é uma tarefa tão fácil. É o que diz Maurici, parlamentar em seu segundo mandato na Câmara de Deputados - na última eleição, para 2023 e 2024, recebeu 121 mil votos, quase o dobro que os 74 recebidos em 2020.

Representando Franco da Rocha, onde foi vereador (1989-1992) e prefeito (1993- 1996) e pai do deputado federal Kiko Celeguim (PT), ele contou, em entrevista ao vivo à Rádio Difusora, na tarde de ontem (6), como tem sido o trabalho de manter o posicionamento da esquerda na qual se posiciona em São Paulo. “É sempre ser difícil por ser oposição. É difícil ser recebido, é difícil ver a pauta avançar, ou sou recebido e a pauta não avança. Chamamos Tarcísio de ‘vetador geral’, porque a gente aprova a pauta, ele veta, a gente aprova a pauta, ele veta”, disse Maurici, que também é jornalista por formação e foi secretário de Comunicação e de Governo na Prefeitura de Santo André (2001–2007), nas gestões de Celso Daniel e João Avamileno.

Ele comparou, salvas as diferentes proporções, o trabalho do PT na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) com a atuação do presidente Luís Inácio Lula da Slva (PT) no Congresso Federal. Segundo ele, é verdadeira a fala de Lula, recentemente, de que “fazer política é fazer concessões e conversar”. “A sociedade se movimenta em função da luta de classes, mas o arranjo que vivemos é democrático, onde se formam consensos. O consenso pode vir criticando, vem na luta, vem esgarçando o tecido ou então cedendo. Lula tem que lidar com 530 congressistas das quais apenas 100 são da base dele. É preciso negociar para que o acordo entre forças políticas possa servir a nação”, pontuou.

Para ele, contudo, o trabalho do legislador, enquanto figura eleita para representar interesses de quem o elegeu, ocupa um espaço fundamental de ser, essencialmente, oposição. Como exemplo, citou as privatizações, discutidas pelo governo paulista, de entidades como a Sabesp e do transporte público. “Muitas vezes, a oposição faz melhor que a situação. Ambas são importantes no modelo democrático.”

IDEOLOGIA

Apesar da necessidade de se fazer concessões na política, a polarização entre forças de esquerda e direita se costura entre alguns valores considerados inegociáveis por quem as representa. É o caso de pautas ideológicas como o aborto, que dividiu opiniões na Câmara dos Deputados e que, por falta de acordo, acabou sendo adiada. “A defesa da vida, seja qual for, é questão pétrea, ou seja, não pode haver nenhum princípio que não defenda a preservação da vida”, pondera Maurici.

“Mas estamos numa sociedade hipócrita, que mata rios, os animais, a fauna, o planeta, e se incomoda com a mulher que engravidou de uma forma que não tenha sido voluntária ou que envolva problemas de saúde.” Para o deputado, esse é um debate que não tem sido feito de forma positiva, uma vez que tem se tornado uma “questão fundamentalista que mistura religião”, o que, segundo ele, não pode acontecer na política.

Entre outras pautas vistas como polêmicas, entre as quais o racismo, o conflito entre Israel e Palestina e a desigualdade de gênero, Maurici também menciona a questão do casamento homoafetivo, que, no mês passado, foi proibido pela Comissão de Previdência, Assistência Social, Infância, Adolescência e Família da Câmara, na contramão de um entendimento que vem sendo adotado pela Justiça brasileira desde 2011, quando o Supremo Tribunal Federal reconheceu a união entre pessoas do mesmo sexo.

Maurici considera que, mesmo as pautas ideológicas tendo ganhado força principalmente nos últimos vinte anos, no embalo da democracia fortalecida pelo fim da ditadura militar e de um sentimento coletivo de que “algumas coisas têm que ser reparadas”, o governo Bolsonaro estimulou que debates como esse fossem ressuscitados com o olhar de uma direita que retrocede no avanço dos direitos. “É um absurdo. Qualquer forma de amor vale a pena. Deixem as pessoas serem felizes”, apela.

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