OPINIÃO

Cuidando do Patrimônio Cultural de Jundiaí

31/10/2023 | Tempo de leitura: 2 min

Nas primeiras reuniões deste ano do Conselho Municipal de Patrimônio Cultural (Compac), alguns indicativos apareceram. De imediato foi reconhecido, novamente, o Inventário de Proteção do Patrimônio Artístico e Cultural de Jundiaí (IPAAC), que dessa vez elencou 143 imóveis, com a supressão de 1 imóvel da Rua Senador Fonseca. Analisando esses números é possível identificar que os bens imóveis são apenas aqueles, os mesmos que a pelo menos 6 anos estão nesta lista, não aumentou em número. Ao contrário, reduziu um! Isso significa que outros imóveis estão, ainda, sem proteção e reconhecimento. Caso da antiga escola na área da fazenda da Fundação Cintra Gordinho, e que os proprietários pedem demolição.     

Estranho o fato de que a Fundação não teve fôlego, nem interesse, no uso desse edifício que apresenta em seu projeto, um exemplo das arquiteturas "neocoloniais" típicas da comemoração do Centenário da Independência, em 1922, e talvez possa ser atribuída ao arquiteto Victor Dubugras, o mesmo que fez o projeto do Pouso de Paranapiacaba, na Estrada Velha de Santos, que faz parte da rota histórica que D. Pedro I fez para chegar ao Ipiranga.

O Profº. Drº. Fernando Atique dedicou em seu livro e tese "Arquitetando a 'Boa Vizinhança': arquitetura, Cidade e Cultura nas relações Brasil - Estados Unidos 1876-1945", onde defende sistematicamente o valor institucional desse estilo; e hoje não se tem dúvida quanto a sua preservação. Em Jundiaí não me lembro de outro edifício tão significativo como aquele. Mas esse é um dos processos que circulam pelos departamentos da prefeitura.       

O que aparece com muita evidência são os conjuntos de casas da Rua XV de Novembro, onde existem cerca de 36 casas, algumas protegidas e que não podem ser descaracterizados, como as de número 145 e 163. Essas casas são de interesse histórico cultural pois refletem uma época e um modo de vida que para descrever aqui não seria possível. O que preciso concluir é uma coisa muito mais importante. O conjunto, mesmo as casas descaracterizadas, precisam se ajustar as outras. Elas têm continuidade, não podem ter falhas nem alterações de volume. Todas essas complexas considerações fazem parte da preservação dessa paisagem cultural e vão seguramente resultar na valorização das casas se forem atendidas as especificações técnicas, históricas e legais.

Também o número de bens tombados pelo município permanece igual, causando problemas de entendimento e colocando em risco esses mesmos bens que estão sendo valorizados no Inventario da cidade.

É preciso que se demonstre interesse objetivo na preservação da cultura, inclusive para garantir na cidade das crianças, que elas possam ter o direito à história, e viver e conhecer como foi a vida antes delas!

Eduardo Carlos Pereira é arquiteto e urbanista e conselheiro do Compac (edupereiradesign@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.