Essa semana de Dia das Crianças resolvi escrever sobre um tema no qual me perguntam muito no meu dia a dia do consultório: crianças podem receber acupuntura?
Primeiro, vamos definir alguns conceitos: acupuntura vem de uma combinação de palavras onde “acu” é derivado da palavra “agulha” e “puntura” derivado da palavra “punção”, ou seja, refere-se especificamente ao ato de puncionar com agulhas determinadas regiões ou pontos do corpo com fins terapêuticos.
Para esse ato especificamente, os livros mais tradicionais pedem que as meninas tenham pelo menos sete anos de idade e os meninos 8 anos (pois estes amadurecem depois), pois essa seria a idade em que os canais de energia estão suficientemente abertos para serem estimulados por “pontos” de acupuntura.
Cabe aqui saber que a medicina tradicional chinesa não se limita a acupuntura, sendo esta somente uma das suas técnicas. Mesmo bebês podem se beneficiar do tratamento utilizando modalidades de estímulo fitoterápico (através de tinturas e extratos secos de ervas em formulações), medicina auricular (Estímulos de pontos na orelha) e com massagens diretamente sobre canais e meridianos (não sobre “pontos”)
“..., mas elas não têm medo de colocar agulhas no corpo?”, escuto com muita frequência, depois que esclareço estes conceitos.
Aí cabe uma análise: Por que elas teriam? Por não ser algo muito comum no ocidente as crianças são até curiosas para saber como é receber uma aplicação, tal como elas são curiosas ao ver qualquer coisa nova para si.
Acontece que, no meio médico, existe um preconceito com relação a um outro ato terapêutico: a injeção. Baseado em conceitos de antiquados, quando os equipamentos para aplicar injeção eram sequer descartáveis (falo de algo no século passado) e os remédios que eram aplicados não eram bem balanceados com relação ao PH dos tecidos que os recebiam, o processo de receber uma injeção era bem dolorido.
Os mais antigos e experientes irão lembrar que por vezes pais e mães perpetuavam esse estigma ameaçando os filhos quando eles não obedeciam: “vou te levar no médico e mandar ele dar uma injeção em você! “. Este tipo de atitude, que hoje é bem raro, ajudou a propagar uma informação que invade os nossos corpos energéticos, onde acreditamos que agulhas são prejudiciais e o método terapêutico da injeção é mais mal necessário do que um ato de tratamento e carinho.
Isso é uma infelicidade e deveria ser abertamente combatido, especialmente no meio pediátrico. A acupuntura, então, sofre com esse preconceito, mas com agravante: a punção por agulhas de acupuntura não tem nada a ver, em termos sensoriais, como receber uma injeção. A sensação dolorosa, em 90% dos seus pontos, é, no mínimo, cinco vezes menor, graças à sua agulha, bem mais fina que as mais finas agulhas de injeção, além de ser maciça ( e não oca como a sua contrapartida), além de não trafegar nenhum tipo de produto para o interior do organismo, o que às vezes é o principal responsável pela sensação dolorosa da punção em si.
Meu conselho é não transmitir nenhuma opinião para as crianças e permitir que elas experimentem, junto de profissionais que tenham tato para apresentar o processo de receber a acupuntura e deixar que decidam por elas mesmas se o desejam ou não
Alexandre Martin é médico especialista em acupuntura com formação em Medicina Chinesa e Osteopatia. (xan.martin@gmail.com)