Opinião

Dia das crianças ou do adulto centrismo

07/10/2023 | Tempo de leitura: 2 min

Em seu último livro, intitulado "Pais feridos. Filhos sobreviventes", Maya Eijenmann, pedagoga, neurocientista, educadora parental, fundadora da Escola da Educação Positiva e uma das maiores especialistas do tema no momento, no Brasil, traz alguns dos mais profundos e sensíveis ensinamentos da educação infantil: a importância de vínculos seguros, protetivos, tratamento respeitoso e olhando completamente para as crianças, validando suas emoções. "(...) ao contrário do que ouvimos falar por aí, não é por meio da dor que nós prosperamos e sim pelo amor...", escreve Maya logo na apresentação da obra.

Criadores e cuidadores precisam manter-se destituídos de adulto centrismo, ou do adultismo, termos bastante usados pela autora, para exemplificar, como faço a seguir, comportamentos exercidos na educação de crianças e adolescentes que reproduzem, consciente ou inconscientemente, ciclos de violência sofridos na própria pele, mas que precisam ser quebrados pois tornam-se uma eterna repetição.

Como em alguns dos exemplos práticos da vida cotidiana a seguir, em que pais e cuidadores não compreendem o que está por trás de suas atitudes e gestos. Se não vejamos...

Você bronqueia com a criança quando ela chora, invalida seu choro, tenta contê-la dizendo que aquilo "não é nada", pede que ela pare, quando não, a ameaça, dizendo que só irá conversar com ela quando parar de chorar mas, ao deparar com outro adulto chorando por motivo qualquer, comove-se imediatamente e para tudo o que está fazendo para acolher essa pessoa.

Ou ainda, obriga-a cumprimentar, abraçar e beijar pessoas desconhecidas e familiares contra a vontade dela, para que não te julguem por ter criado uma criança "mal educada" e ela cresce confundindo as vias de afeto e então, na vida adulta, não sabe diferenciar relacionamentos abusivos dos saudáveis, pois cresceu acreditando que trocar afetividade com todos, indistintamente, era ser uma pessoa legal e educada.

Você ensina a criança que devemos respeitar a sinalização de trânsito e os limites de velocidade pelas ruas, mas pratica o contrário se estiver atrasado para levá-la à escola antes do trabalho.

Como esses há uma infinidade de exemplos que aqui poderiam ser ilustrados neste texto mas, é necessária a clareza de que não é possível criar um ser humano para ser submisso e obediente e ao mesmo tempo esperar que ele cresça para ser um pensador livre.

O que plantamos na infância das nossas crianças e adolescentes não fica apenas na infância.

Tornarmo-nos seres humanos melhores é o que possibilita, diretamente, criarmos outros futuros seres humanos melhores também.

Ou então veremos eternamente repetir-se o ciclo ilustrado nas palavras do escritor Fernando Pessoa: "(...) criança que fui chora na estrada. Deixei-a ali quando vim ser quem sou; mas hoje, vendo que o que sou é nada, quero ir buscar quem fui onde ficou..."

Feliz dia dos adultos que praticam uma educação baseada no amor, no respeito e na empatia como ferramenta para criar um mundo melhor para as crianças, promovendo seu desenvolvimento saudável e contribuindo com uma sociedade mais harmoniosa e justa, para que daí então sempre se possa dizer: feliz seu dia, crianças!

Márcia Pires é Sexóloga e Gestora de RH (piresmarcia@msn.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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