Opinião

Hakuna Matata

05/10/2023 | Tempo de leitura: 3 min

No último fim de semana eu estava com minha sobrinha. Ela estava assistindo ao filme do Rei Leão, bem naquela cena em que o Timão e Pumba cantam e dançam o "Hakuna Matata". Eu adorava essa parte, mas agora crescido, revendo a cena, eu vi que a letra não é tão legal quanto eu pensava.

Os seus problemas...
Você deve esquecer...
Isso é viver...
É aprender...
Hakuna Matata.

Eu ainda gosto da melodia, mas não mais da letra. Pois não acho que nossos problemas devemos esquecer e que nem tão pouco isso seja aprender. Isso é mascarar, tapar o sol com a peneira.

Não estou criticando um desenho infantil e nem tão pouco querendo cancelar a dupla de suricato e javali mais amada da Disney. Filosofias e devaneios à parte, quero só pensar em algo que não passou pela minha cabeça quando era mais novo.

Me dei conta de que no decorrer da vida as coisas podem mudar o sentido ou o gosto. Eu amava macarrão com molho a bolonhesa e agora prefiro alho e óleo. Era fã de filmes de suspense, hoje prefiro comédia romântica.

E o que isso tem a ver com o Timão e Pumba?

Bem... É que eu não quero esquecer dos meus problemas e nem de quem fui no passado. Mesmo que eu não seja mais este cara, foram as escolhas dele que me trouxeram até aqui.

Não é saudade, é nostalgia consciente.
Os seus problemas...
Você deve guardar...
Isso é viver...
Isso é crescer...
Essa é a vida adulta.

Creio que essa versão não seja comercial e nem agrade as crianças.

E tudo bem, cada coisa a seu tempo.

Não quero fazer deste texto um texto melancólico. Tampouco reflexivo.

Não tem que ser preto ou branco. Até mesmo porque desenhos infantis são cheios de cores. Por que a vida adulta não pode ser também?

Me recuso a acreditar em dicotomias assim...

Consigo facilmente me lembrar de momentos em que lágrimas vazaram de mim. Sejam elas de alegria ou tristeza.

<pstyle:ct\_TEXTOS\:ct\_TEXTO\_NORMAL>Pode ser triste desconstruir uma canção infantil, mas também pode ser divertido ver as coisas por outra perspectiva.

Na mesma época em que assistia Timão e Pumba eu gostava de jogar bola de gude e trocar figurinhas. Passava a tarde inteira na calçada da rua de baixo com os garotos da vizinhança.

Aquele foi meu primeiro network.

Minha mãe detestava. Pois as minhas calças voltavam com manchas de terra no joelho. Quando ela trocava as calças por bermudas eram as pernas que voltavam sujas.

Hoje olhando tudo pelas lentes do passado eu lamento pelo trabalho que dei à minha mãe. Mas admito que no início da vida o divertimento vem atrelado a sujeira e ao se rolar enquanto brinca.

Nem tinha Hakuna Matata. Afinal, nem problemas tinham. Minha maior preocupação era chegar em casa antes de começar meus desenhos, de trocar as figurinhas repetidas e não perder as bolinhas de gude de cores especiais.

Com tudo isso tive uma ideia, vou abrir um bar!

Seu nome? Adivinha...

Hakuna Matata.

Não sei se consigo os direitos autorais, esse é o maior problema, mas pensa só: Se os seus problemas você deve esquecer, onde melhor que isso em um bar? Com conversas ao redor de mesa de aço na calçada e cerveja gelada.

Isso é viver...

É aprender...

Jefferson Ribeiro é autor e cronista (jeffribeiroescritor@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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