Opinião

Autismo e liberdade

16/09/2023 | Tempo de leitura: 4 min

É importante lembrar que cada pessoa com autismo é única. O que funciona para uma pessoa pode não funcionar para outra. É importante encontrar o que funciona melhor para cada indivíduo, sendo uma heteroafetação. A liberdade é um conceito filosófico complexo que tem sido debatido por séculos. Platão, Descartes e Kant são três filósofos que ofereceram diferentes perspectivas sobre a liberdade.

Se a Constituição Federal da República do Brasil de 1988 é promulgada de seres humanos para seres humanos, a liberdade é uma condição de autodeterminação e de heteroafetação (o enlace do indivíduo com o coletivo). A liberdade na constituição é um direito fundamental que garante aos indivíduos a possibilidade de agir de acordo com a sua vontade, desde que não violem a lei ou os direitos de outras pessoas.

Para Platão, a liberdade é um estado de espírito que vem da compreensão do Bem. Quando uma pessoa entende o Bem, ela é livre para agir de acordo com ele. O Bem é um princípio universal que existe independentemente do mundo material. Ele é o objetivo final da vida humana e o fundamento da liberdade.

As pessoas com autismo devem ter a liberdade de não entender as emoções dos outros, não expressar suas próprias emoções, não fazer amigos e não se envolver em atividades sociais. Elas também têm direito ao estado de espírito em interesses e comportamentos repetitivos.

Na prática pouca gente entende o Bem, haja vista casos reais tal qual o adolescente autista de 16 anos que foi agredido por seis colegas dentro da sala de aula na Escola Municipal Marechal Pedro Cavalcanti, que fica em Paciência, na Zona Oeste do Rio. Ninguém impediu as agressões. Lamentável!

Para Descartes, a liberdade é a capacidade de escolher entre duas ou mais alternativas. Ele argumenta que a liberdade é um atributo essencial da natureza humana. A razão é a fonte da liberdade, pois nos permite avaliar as diferentes alternativas e escolher a melhor.

A liberdade para escolher terapias para o autismo podem ajudar as pessoas a melhorar suas habilidades de comunicação, interação social, comportamento e resolução de problemas. Os medicamentos podem ajudar a reduzir alguns dos sintomas do autismo, como a hiperatividade e a agressividade. Escolher entre diferentes alternativas de intervenções educacionais podem ajudar as pessoas com autismo a aprender e crescer no ambiente escolar.

Novamente a realidade se impõe e tomamos ciência de que um aluno com autismo, de 13 anos, foi agredido pelo seu professor na escola após ter uma crise de ansiedade, em Sinop, no Mato Grosso. O caso aconteceu na Escola Estadual Olímpio João Pissinati Guerra. Neste caso, no mínimo, é preciso rever as intervenções educacionais a fim de evitar episódios dessa natureza.

Para Kant, a liberdade é a capacidade de agir de acordo com a lei moral. A lei moral é um imperativo categórico que nos ordena agir de maneira racional e moralmente correta. A liberdade é possível porque temos a capacidade de agir por nossa própria vontade, independentemente de nossas inclinações naturais ou das circunstâncias externas.

As pessoas com autismo podem agir por vontade própria, ter uma vida plena e produtiva. Com o apoio adequado, elas podem aprender, trabalhar e se envolver na comunidade. O autismo é um espectro, o que significa que as pessoas com autismo podem apresentar uma ampla gama de sintomas e níveis de gravidade. Algumas pessoas com autismo podem precisar de apoio significativo, enquanto outras podem ter mais independência.

Lei moral que falta, pois aluno autista é agredido com golpe 'mata-leão' e banho de água fria por colega em escola de BH: 'lesão corporal e tortura', diz mãe. Boletim de ocorrência da PM sugere que escola foi negligente em caso de agressões reiteradas contra menino com transtorno do espectro autista.

As perspectivas de Platão, Descartes e Kant sobre a liberdade são diferentes em alguns aspectos importantes. Platão vê a liberdade como um estado de espírito, enquanto Descartes e Kant a veem como uma capacidade. Platão também acredita que a liberdade está ligada ao conhecimento do Bem, enquanto Descartes e Kant acreditam que ela está ligada à razão.

Apesar dessas diferenças, há também algumas semelhanças entre as três perspectivas. Todos os três filósofos acreditam que a liberdade é um atributo essencial da natureza humana. Eles também concordam que a liberdade é importante para a vida moralmente boa. Torçamos para que pessoas com autismo tenham mais liberdade.

Enfim, reforçando o coro dos três grandes filósofos, Thomas Hobbes, afirma que o "homem livre é aquele que não é impedido de fazer o que tem vontade, no que se refere às coisas e que pode fazer por sua força e capacidade". Para Jean-Paul Sartre, "a liberdade é a condição ontológica do ser humano. O homem é, antes de tudo, livre. O homem é nada antes de definir-se como algo, e é absolutamente livre para definir-se, engajar-se, encerrar-se, esgotar a si mesmo".

Nélio Reis é professor federal e PhD (nelio.reis.phd@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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