Opinião

Essas casas velhas atrapalhando tudo

16/09/2023 | Tempo de leitura: 3 min

"Proxão", como diria Cassandra, o personagem que Aracy Balabanian, recentemente falecida, interpretava no "Sai de Baixo", tinha um tom de exagero e burlesco. No entanto, para a grande maioria das pessoas, o apreço por casas fora do padrão contemporâneo de uso domiciliar também está desvalorizado, e a prática de ir "proxão" recai principalmente em casas menores. Aqui, as casas no centro próximo à FEPASA são um problema.

Vou descrevê-las assim: meio lote, uma para cada lado, sempre com 50 metros de profundidade e frente do terreno de 7 - muitas vezes 5. Com as antigas posturas municipais, precisavam, para serem salubres, de um grande afastamento do chão, formando os porões de mesma área da casa. Essas casas foram feitas para operários ou para serem alugadas, do começo do século XX até os anos 1950, situadas entre a Fepasa e as ruas centrais (Vila Arens nas casas operárias das tecelagens e da oficina Arens). A localização era perfeita para os ferroviários irem a pé até os escritórios e oficinas da Paulista. Hoje, sem as ferrovias, não são mais valorizadas. São mais baratas porque não podem abrigar o carro. Mesmo assim, os proprietários, por sua própria razão, desafiam leis, o Conselho de Patrimônio e a Secretaria de Planejamento para sem razão fazerem o que bem entendem em suas casas.

Em outros países, lofts são valorizados e não se tem "ranço" de velhice. São convertidos em ótimos lugares para habitar com charme, pé-direito alto, com mezaninos e as belas janelas com altura excepcional, que, salvas e restauradas, valorizam a casa e deixam o lugar com a cara dos dias atuais.

A supremacia dos veículos não deveria se sobrepor ao valor do imóvel, sobretudo se tiver interesse histórico. Essa possibilidade deveria ser descartada. Não aos veículos dentro dessas casas que foram perfeitas por mais de um século de uso contínuo! Não são compatíveis! Com os serviços da Uber e a possibilidade de estacionamentos coletivos, elas podem ser excepcionais. Não quero dar a receita de como fazer, mas também não dá para assistir demolições e adequações, mais inadequações, com conivência.

O envelhecimento e o declínio dessas casas têm etapas claras: primeiro, diminuem-se os vãos das janelas para receberem novas, bem menores em alumínio. Sob essa janela na fachada, abre-se um buraco que se transforma na garagem do carro, o telhado será substituído ou trocado completamente, atrás se acrescenta cômodos, às vezes em cima, e por cima de tudo uma tinta, e olhe lá. Esse é o caminho da destruição porque na sequência será logo demolida, comprada para um novo sobrado com uma vaga na frente ou demolida em conjunto para um estoque de terras nesse local.

Os proprietários diminuindo os vãos das janelas da frente, quando não da casa inteira, introduzem uma estética que não é possível deixar acontecer. Desafiando as posturas municipais vivas e o controle também das fiscalizações dos Conselhos de Preservação e dos profissionais como os do CAU de Arquitetura e o CREA de Engenharia. Deixar acontecer, talvez, uma campanha para reverter esses vãos aos originais seria muito interessante, com resultados bons e de valorização comercial dos imóveis, a maioria em decadência decorrente de péssimas intervenções.

A educação patrimonial não tem efeito. Como a municipalidade, as universidades e a sociedade civil podem trabalhar a educação patrimonial que defendem? Há décadas é praticado, mas não é suficiente para interromper essa avalanche de ações que, em nome da propriedade, destroem patrimônios? Pergunto se o caminho adotado é eficaz?

Eduardo Carlos Pereira é arquiteto e urbanista (edupereiradesign@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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