OPINIÃO

A pluralidade do Brasileiro


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Nesta semana em que se comemora a independência do Brasil, data de início da nossa nação e marco inicial da sua identidade como “casa” do povo brasileiro, gostaria de falar que sinto muito orgulho de pertencer à egrégora desta terra. Muitos são os motivos, mas me toca muito a capacidade do brasileiro em agregar, sem conflito algum, as várias ideias diferentes que tem a sua disposição.

Alguns podem pensar que essa capacidade é algo oriundo de desorganização e por vezes falta de critério, classificando-a inclusive como um “ponto fraco” na nossa moral. Eu, ao contrário, acredito que essa pode ser a raiz da nossa maior força.

O povo brasileiro foi formado de uma mistura étnica que trouxe as mais diferentes ideias. Em qualquer outro lugar do mundo, muitas dessas ideias gerariam preconceito e conflito, mas o brasileiro sabe pegar o melhor de cada uma, organizar em um sistema novo e genuinamente nacional que lhe serve e, por fim, realizar os “cortes” necessários para aquilo que não lhe serve não atrapalhe o bom desenvolvimento de tudo.

Isso nas mais variadas áreas. Vou dar um exemplo histórico dentro da minha própria especialidade médica: a acupuntura.

Um dos primeiros países do mundo a colocar a acupuntura como especialidade médica, conferindo o mesmo status que outras mais tradicionais, como a cardiologia e a neurologia, foi o Brasil. Muitos outros países, notoriamente mais desenvolvidos no quesito econômico não a aceitam desta maneira, apesar de haver várias provas científicas do seu funcionamento e a delegam ao ramo de “alternativas”, como não participante do rigor acadêmico e mesmo das benécies hipocráticas do exercício médico.

Caso isso soe um tanto preconceituoso pela parte de uma estrutura rígida que não admite ideias novas e, de certa maneira, revolucionárias… pode ter certeza de que sim, procede a impressão. No Brasil, contudo, isso nunca ocorreu de forma relevante a impedir o desenvolvimento da especialidade.

Outro fato curioso da “nossa” acupuntura. A “inserção de agulhas” (que é o significado da palavra “acupuntura”) é somente uma parte das várias técnicas que são aplicáveis à medicina tradicional chinesa. As massagens e manipulações vertebrais (tui-ná), por exemplo, constituem outras técnicas do mesmo sistema.

Em todos os lugares do mundo, observam-se “regionalismos”, desenvolvendo mais algumas técnicas em detrimento de outras. A prática de agulhamento, por exemplo, é muito corrente em países de clima tropical, pois exige uma exposição da pele para a inserção e trata com eficácia doenças típicas do calor.

Dois de meus professores eram de ascendência vietnamita e diziam que o Brasil desenvolveria a acupuntura pela semelhança do clima entre esses dois países. No entanto, é muito corrente aqui (e somente aqui) a prática de moxibustão, trazida por japoneses no início do século passado, preservada pelos seus descendentes orgulhosamente brasileiros, prática essa comum em países de clima mais frio, como o Japão. E as duas técnicas, antagônicas em outros lugares, encontram-se acolhidas no nosso solo abençoado.

Alexandre Martin é médico especialista em acupuntura e com formação em osteopatia e medicina tradicional chinesa (xan.martin@gmail.com)

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