OPINIÃO

Sagrada Família: Esperança, Anseio e Alegria


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Convido vocês, meus queridos e minhas queridas, a voltarem os seus olhos para o Evangelho. Mais uma vez, contemplamos Maria e José, levando Jesus ao colo, caminhando para o desterro, no Egito, onde no passado, habitaram os nossos pais.

A razão que os levou a tomar o caminho da terra dos faraós foi proteger Jesus, uma criança recém- -nascida, das garras de Herodes que, numa atitude insana de apego ao poder, ansiava por matá-lo. É próprio do amor ao poder levar os pequenos à morte.

Os refugiados de ontem são os mesmos de hoje. Não precisamos de grandes esforços para intuir o sofrimento e a dor de quem vive a amarga experiência do desterro.

A partir disso, gostaria de convidá-los a meditar sobre o que se passou no coração de Maria e de José no tempo do exílio.

Tanto na ida, quanto no retorno do desterro, não escutamos nenhuma palavra sobre o que se passou no coração da Sagrada Família diante da dor, da injustiça, do poder arbitrário, da incerteza do futuro, do tempo em que permaneceram no Egito! Indiferença, submissão, resignação, silenciamento... O exílio transforma a resignação em resiliência! São José, homem sonhador, Nossa Senhora, a Virgem do Desterro, Cristo Jesus, o menino peregrino, têm muito, muito a nos ensinar!

Reflitamos três desses ensinamentos:

1. Primeiro, o silêncio da Sagrada Família nos fala de esperança! Diante daquela assombrosa política de morte do Rei Herodes, José não se desesperou! São José, homem justo e piedoso, não sucumbiu ao desespero porque tinha Deus como a sua rocha e o seu amparo. Quem, a exemplo de São José, orienta o seu coração para Deus, tem a sua vida orientada para o amor, que se compreende como auto entrega, na plena realização do dom de si. Herodes, por sua vez, sucumbe ao desespero porque permanece no mesmo lugar de morte, sem deixar-se afetar pela força amorosa do Espírito de Deus que faz novas todas as coisas. E quem tem amor pelo poder, permanece sempre no lugar da morte. Quem se desespera, desiste da esperança.

2. Em segundo lugar, a fuga para o Egito foi motivada pelo anseio de Maria e José por acolhimento, por um lar, por um lugar onde se pode viver em paz e segurança, onde se pode criar laços com a comunidade, onde se pode prosperar.

3. O terceiro ensinamento é a alegria do Evangelho, que possibilita uma jornada que vai do sofrimento à esperança; do pranto ao consolo e da escuridão à luz. Maria e José tinham um coração pleno da graça de Deus e levavam consigo Jesus, o Evangelho vivo e encarnado. É certo que viveram a dura experiência do abandono. Quando subimos no Calvário com Jesus, a nossa alegria cede lugar à paz, possibilitando-nos viver, com serenidade, as piores tribulações. Já os que amam o poder, não suportam a serenidade da cruz!

Que a alegria do Senhor seja sempre a nossa força e que nos momentos difíceis da vida, Ele nos agracie com o dom da serenidade e da paz, a exemplo do que se passou com Maria, a Nossa Senhora do Desterro!

Meus queridos, sigamos os passos da nossa dileta Padroeira, Nossa Senhora do Desterro. Unamo-nos a São José na sua capacidade de discernir os desígnios de Deus e no seu amor zeloso, por Jesus Nosso Senhor e pela Virgem Maria, nossa Mãe. Que nas adversidades da vida, jamais percamos a Esperança, o anseio pelo Reino e a alegria do Evangelho. E que o amor pelo poder seja sempre vencido pelo poder do amor!

DOM ARNALDO CARVALHEIRO NETO é bispo diocesano de Jundiaí (verboadm@dj.org.br)

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