
A ansiedade social é uma realidade que afeta muitas pessoas, mas uma forma menos conhecida, porém igualmente debilitante, é a afefobia - uma fobia que se relaciona ao medo extremo de ser tocado. Esse fenômeno psicológico é objeto de crescente atenção, pois pode ter um impacto profundo nos relacionamentos e na qualidade de vida das pessoas.
A afefobia, também conhecida como "afofosmofobia" e "tixofobia", pode se manifestar de várias maneiras. A pessoa afetada pode sentir ansiedade extrema em situações sociais, como encontros, eventos ou até mesmo em conversas cotidianas. O medo de ser tocado por estranhos ou sem consentimento pode evitar interações sociais, limitando as oportunidades de construir relacionamentos saudáveis.
A psicóloga Juliana Costa, 45 anos, que trabalha com a abordagem cognitiva-comportamental explica que "a afefobia pode ser paralisante. Quem sofre com esse distúrbio, geralmente passa por uma angústia muito grande, com sintomas de taquicardia, sudorese, náusea e tremores. Isso se dá, na maioria das vezes, porque a pessoa pensou que poderia ser tocada por alguém. Mesmo que sejam afetos corriqueiros, em âmbito social, isso acaba dificultando a formação e a manutenção de conexões emocionais significativas."
Segundo Juliana, a afefobia muitas vezes tem raízes em experiências passadas. "É fundamental entender que a afefobia não é apenas uma insegurança comum, mas sim uma resposta emocional enraizada em experiências significativas da vida da pessoa", diz ela. "As causas da afefobia tem uma correlação com transtornos. Fatores psíquicos e eventos traumáticos envolvendo toques forçados. A afefobia pode se desenvolver não apenas por meio de agressões sexuais, mas agressões físicas e punições desnecessárias; neste caso, quando se é criança. É uma forma de mecanismo de defesa."
Como resultado, muitas pessoas evitam ativamente oportunidades de se conectar. Essa espiral de receio e isolamento pode levar a sentimentos de solidão e impactar negativamente a autoestima. "Não é comum interagir com familiares. E nem todos que convivem com essa pessoa que sofre de afefobia conseguem compreender a situação. É interessante citar que dificilmente uma pessoa com essa fobia ingressa no mercado de trabalho também."
Quando se trata de tratamento, Juliana enfatiza a importância da terapia como ferramenta fundamental. Terapias cognitivo-comportamentais, terapia de exposição e técnicas de regulação emocional são frequentemente utilizadas para ajudar o indivíduo a aprender a lidar com a ansiedade social.
"Dificilmente a pessoa afefóbica tem cura. Ela vai aprender a conviver com a condição para que não torne tudo isso mais difícil para sua vida. Uso como exemplo uma pessoa viciada em álcool. Ela sempre vai estar lutando para 'se manter nos trilhos'. Quanto aos medicamentos para uma pessoa afefóbica, as pílulas estão ligadas a outros transtornos, como a ansiedade e depressão," ressalta Juliana. "É importante destacar que a superação da afefobia é um processo gradual. O tempo é singular. É um desenvolvimento que precisa ser mantido entre a pessoa que sofre da fobia e o profissional que está lidando com uma possível evolução", finaliza.
GRAUS
Psicóloga clínica com ênfase em saúde mental, Luciene Rossi Alves, 53 anos, explica que existem diferentes graus de afefobia. "Muitas pessoas podem desenvolver esse tipo de fobia e não ter se dado conta, porque os sintomas são mais leves e não impedem a vida. Caso a pessoa não consiga lidar com encontros casuais, relacionamentos sociais e ambientes de trabalho, com um impedimento significativo na vida e nas relações, consideramos um grau mais forte da fobia. Assim, recomendamos buscar ajuda profissional."
Questionada sobre a afefobia ser influenciada por familiares, Luciene comenta que é importante reconhecer esta fobia por completo, pois pode ser complexa e multifacetada. "Se a pessoa vier de um família que não demonstra muito carinho, talvez nunca perceba que possui a fobia. Também precisamos avaliar outras possibilidades nestes casos, como o diagnóstico de um bom profissional para descartar outros transtornos."