Opinião

A cada 4 anos um novo Centro?

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Em Poços de Caldas (MG), uma extensa avenida, que é a entrada da cidade até o Centro, está sendo reestruturada e de maneira exemplar.

As Tibuchinas quaresmeiras foram removidas - são árvores pioneiras que iniciam o processo de recomposição de florestas e depois morrem. No ambiente urbano estavam plantadas inadequadamente em jardineiras, cresceram e derrubaram floreiras e ocasionaram outros danos. Foram removidas e em seu lugar nada foi feito, porém uma nova sequência de indivíduos arbóreos foi plantada com muitas melhores orientações de plantio e com as espécies paisagísticas indicadas para aquela belíssima avenida de cerca de 5 km de extensão, simultaneamente a um processo de conservação da calçada e da ciclovia. Os jardins são mantidos iguais desde a sua criação.

O exemplo dali é a organização e o conhecimento que são patentes e a população da cidade reconhece o valor e dá o crédito devido. O prefeito, segundo a população, tem quadros técnicos de competentes servidores.

Uma feira nacional de carros antigos, encerrada no último domingo, deixou marcas de todos os tipos nos jardins do hotel onde foi realizada a exposição. Na segunda-feira, as equipes estavam lá recuperando, limpando e deixando o jardim impecavelmente em ordem.

Campinas está há muito tempo discutindo e procurando ações, projetos e soluções para o Centro. A Câmara Municipal, através do vereador Paulo Gaspar, vem discutindo três projetos importantes para a solução do problema de moradia para a população de rua. São ações que parecem bem-sucedidas e já abraçadas pelo novo secretário Marcelo Coluccini, que, de cara, vai instalar uma Secretaria de Planejamento com as características e referências como de Maringá (PR), cidade que tem em seu planejamento exitosas soluções.

Aqui, assustadoramente, aparece um movimento, da qual não sei a origem, que foi pintar as árvores de branco, em cal, mas é assustador. Mais parece uma ação subversiva, porque contraria o propósito das discussões que a Secretaria de Planejamento vem fazendo para o Centro, com consulta prévia à população.

Senhores, pintura, mesmo a cal, em caules de árvores ou palmeiras é irreversível e condenável há décadas. Roberto Burle Marx reprovava essa prática! Isso não é nada tolerável por paisagistas e arquitetos. Esse branco em todos os lugares também está injustificadamente sendo usado, talvez, para mostrar serviço?

Será que ninguém notou o que aconteceu na Praça São José? Foi feito por comerciantes insatisfeitos com o descuido das praças do Centro?

Não adianta mudar se não se conserva. Basta ver a outra Praça da Bandeira, que está consolidada a vegetação, mas que não molham seus jardins. Não molham porque acham que não precisa, mas vai decaindo tudo! Depois de piorar muito, vão fazer uma requalificação ou pintar de branco. Lá, os pisos são de pedra portuguesa, precisaria de manutenção, mas quem garante que não será mudado por algo mais moderno? O Conselho de Patrimônio Histórico deveria cuidar também para que o piso permaneça.

Conservar o patrimônio exige a presença de técnicos, assim como o paisagismo duradouro, responsável também pela manutenção da nossa história, do reconhecimento aos nossos antepassados e na construção de uma cidade do futuro, cujas tradições são preservadas.

Eduardo Carlos Pereira é arquiteto e urbanista (edupereiradesign@gmail.com)

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