Opinião

Minha vez de ir ao banheiro

10/08/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Eu sempre falei que queria encontrar uma namorada incrível, uma parceira de vida. Alguém para dividir muito além das contas, e sim os desejos e conquistas.

Mas o tempo vai passando e nossas expectativas vão se transformando em frustração.

Dá uma preguiça...

Depois que eu terminei um relacionamento de quase cinco anos eu olhava pro passado com duas certezas.

A primeira de que nossos propósitos mudaram no caminho. E a segunda de que me bateu um desânimo em recomeçar o processo de encontrar alguém.

Acho que quando você termina um relacionamento sem mágoas, numa boa acaba sendo pior. Eu sei que não faz muito sentido, mas vou explicar...

Nós só percebemos que queríamos coisas diferentes da vida. Assim como quando a gente percebe que pegou o caminho errado e precisa fazer o retorno e voltar.

Eu não tenho raiva dela e nem ela de mim, mas é que nesse processo não existe raiva e nem mágoa e com isso fica só o lamento e a preguiça pelo recomeço.

Aplicativos de namoro piscam notificações a cada instante no meu celular, nem sei porque eu instalei se ignoro todas. Não tô no clima.

Entre tantas mensagens que vibram meu celular uma me chamou atenção. Uma que começava de uma forma diferente.

"Ei amigo da minha prima."

Fiquei puxando na memória quem poderia ser, quem era essa amiga, essa prima... Por fim respondi:

"Oi prima da minha amiga. / Quem é você?"

"Alguém que te viu na casa da Pri no último sábado e gostou do pouco que viu."

As coisas começaram a fazer sentido na minha mente, a Pri é uma amiga dos tempos de colégio. Fui no aniversário dela no último sábado. Rever uns amigos, beber uma gelada e distrair a cabeça. Quem diria... A vida tem dessas.

"Acho que estamos em desvantagem. Eu nem sei quem é você." Foi a única resposta que me veio à mente.

"E quer descobrir?"

"Não sei, sou curioso! Mas não gosto de mistérios."

"Isso não faz muito sentido."

"Minha vida já não faz tem tempo."

"Por quê?"

"Para responder essa pergunta precisaria de tempo e muita cerveja."

"Aceito!"

"O que você aceita?"

"Seu convite. / Ou eu entendi errado?"

"Acho que não, mas não sei se é seguro sair com alguém que eu não sei o nome e nunca vi o rosto."

"Isso eu consigo resolver." Disse ela e foi quando sua foto apareceu no aplicativo de mensagens. Não sei se ela tirou a foto, ocultou de mim ou algo assim. Nunca fui bom com tecnologia e não vai ser agora que vou querer aprender.

Estou aqui lembrando de tudo isso enquanto ela foi ao banheiro. Estamos em um bar que um amigo disse que é bom. Tive que pegar indicações, namorando a tanto tempo ia sempre nos mesmos lugares, não queria esbarrar com velhas lembranças, ou quem sabe até...

Enfim!

No canto da mesa tem oito garrafas, estamos acabando a nona e certeza que beberemos a décima. Provável ainda que não será a saideira.

O papo flui fácil. Tinha me esquecido como é isso. Perder a hora bebendo e conversando sobre tudo. De crise econômica americana ou último episódio do "De férias com o Ex".

Me segurei por uns vinte minutos pra ir no banheiro, só pra não perder a teoria dela sobre o final de "Lost".

Quando eu ia anunciar minha ida ao banheiro ela se levantou me pediu pra vigiar a bolsa dela enquanto ia retocar a maquiagem.

Agora estou aqui me segurando pra não mijar nas calças, esperando-a voltar.

Acho que me lembrei o que é o amor.

Saber quando prender e quando soltar.

Ninguém disse que é fácil, mas é sempre divertido.

Jefferson Ribeiro é autor e cronista (jeffribeiroescritor@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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