Opinião

Se outras fazem, por que não aqui?

10/08/2023 | Tempo de leitura: 3 min

A situação calamitosa do ambiente planetário reclama uma opção consequente e compromissada de cada ser humano. Há gestos isolados que provam existir consciência ecológica em alguns nichos. Mas eles precisam de escala. Precisam comover mais pessoas. Até que a população mundial, uníssona, viesse a exigir dos governos uma postura séria. Estado é mandatário, não senhor da cidadania. O mandante é o cidadão que vota. Este é que deve ditar as regras de conduta dos políticos profissionais, em regra a perseguir seus próprios egoísticos interesses, com absoluto desprezo pelo bem comum.

Mas há coisas que podem ser feitas e que dependem exclusivamente da boa vontade. Encontrei dois bons exemplos estes dias. Um deles ocorre em São Caetano do Sul, onde se desenvolve um projeto de expansão da política pública de atenção à alimentação. Todas as sessenta e seis unidades escolares municipais terão hortas.

Houve ampliação dos espaços de cultivo de verduras, legumes e hortaliças. O projeto conta com o apoio dos estudantes do curso de Nutrição da Universidade Municipal de São Caetano do Sul e de uma frente de trabalho que envolve a comunidade. As mães poderão trabalhar nas escolas. Tais projetos de educação alimentar são reconhecidos pela FAO - Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura. É uma fórmula interessante para fazer a criança se interessar pelo cultivo e apreciar mais a comida que resulta de sua participação.

Numa cidade que ainda tem zona rural, é importante fazer com que as novas gerações descubram a maravilha que é trabalhar a terra e dela extrair não apenas o sustento familiar, mas o prazer de uma atividade realmente compensadora.

O outro exemplo é o mutirão levado a efeito em Barão Geraldo, Campinas, que transformou um terreno abandonado em verdadeira agrofloresta. A população ecologicamente consciente recuperou uma área ociosa e o resultado é uma flora e fauna exuberantes. O local utilizado para depósito de lixo e material de construção descartado atraía baratas e ratos. Mas a população não esperou que o governo municipal reagisse. Colocou-se em atividade coletiva e constante. Árvores frutíferas e espécies nativas da Mata Atlântica mostram que, havendo boa vontade, a natureza devolve em décuplo aquilo que nela se investe.

Há terrenos ociosos que precisariam ser utilizados a benefício comunitário. Quantas áreas, aqui em Jundiaí, ainda possuem pequenos cursos d'água que ainda não desapareceram. Muitos outros já sumiram, por uma série de razões. Uma invasão resultante da especulação imobiliária, que não respeita zonas de preservação permanente, a derrubada indiscriminada de árvores, o cultivo de eucalipto, sabidamente destruidor de nascentes.

Os moradores de Barão Geraldo se valeram de que o terreno onde a agroflorestal se localiza pertence à União. Tem quatrocentos metros de comprimento por cinquenta de largura. Integra um corredor ecológico que conecta a Mata Santa Genebra e cursos d'água em Barão Geraldo. Mais de trezentas árvores já cresceram e a população faz compostagem, leva as sementes e se delicia com um espaço agradável e restaurador das energias.

Ora, se São Caetano do Sul e Barão Geraldo, em Campinas, podem fazer tais projetos, por que não as outras cidades, entre as quais as nossas? Basta querer. Vamos em frente, pois de tais atitudes depende o futuro da humanidade, seriamente ameaçada diante de nossa calamitosa inércia.

José Renato Nalini é reitor de universidade, docente de pós-graduação e Secretário-Geral da Academia Paulista de Letras (jose-nalini@uol.com.br)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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