Opinião

A indústria após a redução da Selic

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A redução da taxa básica de juros de 13,75% para 13,25% anunciada na semana passada é muito bem-vinda. Apesar de ainda ser um patamar muito elevado e permanecer entre as mais altas do mundo, a Selic finalmente começou seu ciclo de baixa e, pelo comunicado do Banco Central, novas quedas de 0,5 p.p. são esperadas até o final do ano.

A má notícia é que essas reduções não terão impacto em 2023. Apesar do quadro benigno da inflação - com o IPCA em doze meses dentro da meta e deflação nos preços no atacado -, o Banco Central demorou demais para iniciar o afrouxamento da política monetária.

Com isso, o cenário deste ano já está dado, uma vez que os efeitos negativos do juro elevado vêm se consolidando há meses. A produção industrial segue abaixo do nível pré-pandemia e a expectativa de Fiesp/Ciesp é de uma queda de 0,5% no indicador em 2023. As reduções da Selic só afetarão a atividade econômica de fato em 2024.

É importante destacar que, no setor industrial, o juro alto tem um efeito mais pernicioso do que em outros segmentos, com impacto até 50% maior, segundo cálculos de Fiesp/Ciesp. Isso porque, diferentemente de outros ramos de atividade, a indústria de transformação não tem acesso a mecanismos de financiamento que podem aliviar o aperto monetário como LCAs, LCIs, CRIs, CRAs, Debêntures Incentivadas ou Plano Safra.

Assim, os juros altos punem especialmente os setores mais sensíveis à crédito, como o de bens duráveis e bens de capital. Isso fica claro numa análise da produção industrial de junho das grandes categorias econômicas. Na comparação com o mês anterior, a única variação positiva foi observada em bens de consumo semi e não duráveis ( 0,9%), enquanto a principal variação negativa foi registrada em bens de consumo duráveis (-4,6%), seguido por bens de capital (-1,2%) e bens intermediários (-0,3%).

Da mesma forma, ao comparar o conjunto de setores industriais que estão acelerando e os que estão desacelerando, é possível detectar o impacto dos juros à medida que o aperto monetário foi sendo implementado. A inflexão começou no início no primeiro trimestre de 2022. Mais especificamente a partir de abril do ano passado os setores desacelerando passaram a ser a maioria dos segmentos pesquisados na indústria de transformação. Desde então, um crescimento mais forte da produção industrial não conseguiu alcançar um número mais abrangente de setores para reverter esse quadro.

Além disso, durante o primeiro semestre do ano, quando os efeitos da Selic de 13,75% já eram plenos, o fôlego ficou curto para a produção da indústria geral, que registrou, na variação mensal, três quedas e três elevações. No caso da indústria de transformação, houve apenas um aumento mensal durante todo o semestre.

De imediato, a queda de 0,5 p.p. é boa para o governo, que vai economizar cerca de R$ 20 bilhões em um ano com o pagamento de juros da dívida. Se ocorrerem mais três reduções nesta magnitude, como sinalizou o comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom), a economia será de R$ 80 bilhões em doze meses.

As condições financeiras restritivas devem continuar pesando sobre a indústria nos próximos meses, por isso a previsão de Fiesp/Ciesp de que a produção industrial encerre 2023 em terreno negativo (-0,5%). Se este número se confirmar, será a sétima queda em dez anos, sinal inequívoco de que o Brasil passa por um forte processo de desindustrialização que precisa ser revertido.

Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do Ciesp e 1º diretor secretário da Fiesp (vfjunior@terra.com.br)

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