Opinião

Mania de cerâmica

29/07/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Aulas de cerâmica estão tomando conta do tempo de muita gente. Não é com proposito de formar artistas ou artesões, o que não é descartável, mas pode ser um ótimo meio de distrair e conviver com outras pessoas.

Em Nova York algumas escolas estão adotando um método onde os alunos em sua primeira experiência entram longamente em contato com o barro e vão sentindo a massa, fazendo um exercício por uma aula. As peças realizadas assim não são consideradas, por conta de ser um primeiro contato com o barro e já para que os alunos sintam um relaxamento e se surpreendam com o que fizeram, além de fazer com que todos se conheçam. Somente depois disso é que se iniciam as técnicas de placas que permitem já realizar objetos que, assados a 900 graus, se tornam utilitários.

No SESC, essas aulas tem esse diferencial, a liberdade de fazer com o barro e tem resultados surpreendentes. Em um dos cursos, o que foi ensinado foi a confecção de um instrumento de sopro, e todos o fizeram. O que se nota em todos eles é que as vagas se esgotam rapidamente e o interesse é muito grande.

A cerâmica é a ancestralidade que representa a mais antiga das indústrias, quando o homem passou a utilizar o barro endurecido pelo fogo; as mais antigas são da pré-história, quando passou a substituir o trabalho com pedra, madeira e com as cascas de alguns frutos que faziam vasilhas. Aqui, antes mesmo dos colonizadores chegarem, os indígenas já haviam firmado a cultura do trabalho com o barro e na América Latina isso é muito evidenciado, como na Amazônia com as peças cerâmicas marajoara ou as grandes peças redondas para torrar a mandioca que se tornaram tradição. As urnas funerárias também são documentos dessa arte da cerâmica, como as que foram encontradas em 2018 em Tauary, região central da Amazônia, e que podem ter mais de 500 anos.

Aqui em Jundiaí, região pioneira na fabricação de tijolos, e recordista até hoje no país, paradoxalmente não tem escolas SENAI de tecnologia cerâmica e nem tradição em escolas da arte da cerâmica. Na rua do Rosário, ao lado do Fórum, teve a cerâmica instalada em um galpão no quintal da casa do Cau Ungaro - em meados de 1967- onde os alunos de D. Cleo Barreto Campas faziam suas fruteiras, pés de abajur e jarras com um traço moderno para combinar com os móveis novos e experimentavam esmaltes e até murano para queimar, procurando efeitos novos e inusitados. Esculturas insipientes e técnicas também. Isso ficou parado por muito tempo até quando Semiramis Mojola (1986), inicia sua escola de cerâmica no jardim novo mundo. Um projeto para esse fim, mas que durou pouco tempo.

Agora esse interesse voltou, e fazer cerâmica é moda e faz bem. E temos lugares para aprender e fazer cerâmica: o Sterra Cerâmicas de Samira Tabbakh na rua Itália, o Studio de Cerâmica Marilia Gonçalves na rua Jol Fuller e agora, inaugurado no ultimo dia 25, o atelier de cerâmica NÓZ, de João kadi, Giovana Gaspari e Fernanda Gambini, que escolheram um lugar estratégico próximo ao Espaço Expressa, na rua Prudente de Morais, em um prédio de tijolos do século XIX, que discretamente tem seu charme e está equipado com materiais e infraestrutura para qualquer um fazer cerâmica, num esquema de coworking.

Eduardo Carlos Pereira é arquiteto e autor do livro "Núcleos Coloniais e Construções Rurais" (edupereiradesign@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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