Opinião

Em tempos de IA, o que é SER Humano?

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Essa segunda-feira, dia 17/07, li na Stanford Business Review um artigo muito interessante questionando a importância do ato de SER Humano em uma potencial era de onipotência da inteligência artificial. O autor comenta a reação defensiva como constância a cada novo avanço da tecnologia. A história se repete com ondas de entusiasmo frente às novas perspectivas, seguidas de ondas, quase simultâneas, de desespero. Algo como "A IA nos tornará altamente produtivos! E ao mesmo tempo: A IA roubará nossos empregos!".

Benoît Monin é professor de comportamento organizacional da Stanford Graduate School of Business. Ele coloca que a humanidade sempre se viu como única no Universo. E que por conta do que é chamado de teoria de identidade social, nos identificamos com um grupo escolhido e nos definimos sempre em contraste com os grupos externos. A Inteligência artificial passa a se configurar com um grupo externo, justamente porque foi criada a partir das competências humanas e é constantemente apresentada como tendo características humanas. Logo o nosso senso de singularidade está ameaçado. Diante disso, Benoit Monin quer entender quais são as características humanas que realmente podem ser substituídas pela nova tecnologia e quais não.

Durante os experimentos, os pesquisadores perceberam que à medida que as notícias descrevendo a Inteligência Artificial proliferam, as percepções das pessoas sobre a natureza humana mudam de tal forma que elas classificam atributos distintamente humanos como mais essenciais. Para isso foi dado o nome de Efeito IA. Considerando esse comportamento como comum, Benoit extrapola que quanto mais informação e experiência com inteligência artificial um recrutador, um chefe, um CEO de uma empresa tiver, maior será sua predisposição para enaltecer as qualidades intrinsecamente humanas como: cultura organizacional, crenças, senso de humor, moralidade, espiritualidade, desejos, busca pela felicidade e amor, personalidade e capacidade de manter relacionamentos. Entende-se que outras competências mais técnicas como: cálculos, atividades relacionadas ao uso da linguagem, regras de implementação, previsão do futuro, lógica, comunicação, reconhecimento de faces, memória serão cada vez mais esperadas das máquinas e menos esperadas dos humanos. 

Eu gosto dessa linha e para comprovar o que o professor Benoit trouxe, me sinto incomodada quando vejo que o uso da linguagem e comunicação são consideradas competências menos importantes, pois me pergunto como conseguiremos manter relacionamentos, senso de humor, espiritualidade, busca pela felicidade e amor sem competências de linguagem, memória e até reconhecimento de faces? Por outro lado, é interessante pensar que, como humanidade, a gente precisou criar máquinas poderosas e amedrontadoras, para que finalmente a gente reconheça e enalteça as nossas características mais humanas, que necessariamente estão ligadas à capacidade de perceber o outro: as habilidades interpessoais.

Elisa Carlos é engenheira especialista em inovação (elisaecp@gmail.com)

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