Opinião

Rio sai na frente

29/06/2023 | Tempo de leitura: 3 min

São Paulo e Rio de Janeiro passaram a competir há pouco, na história do Brasil. Até o século XIX, nada se comparava à Corte, aquinhoada com intenso relacionamento com a Metrópole, com a criação de instituições imperiais que tinham por si o Erário, meca de todos os brasileiros. Já São Paulo era uma vila provinciana com poucos habitantes. O que causou perplexidade ao se cogitar da criação de uma Faculdade de Direito nesta terra chucra, onde se comia formiga...

Também por sediar a São Francisco, São Paulo disparou. Tornou-se a maior cidade do Brasil. Cosmopolita, complexa, paradoxal. Cheia de encantos, e cheia de problemas.

O Rio se tornou violento. Milícias tomando conta das encostas. Políticos do pior quilate. Mas continua a ser a "Cidade Maravilhosa", que o homem não consegue estragar.

Uma das coisas boas que acontecem no Rio é o projeto "Ambiente Jovem", que, a partir de resíduos, criam projetos sustentáveis e descobrem aquilo que os políticos ainda não conseguiram enxergar: o que se chama lixo, ou - eufemisticamente - resíduo sólido, é um tesouro que deveria ser vendido. Em lugar disso, as Prefeituras pagam pela coleta de material que tem valor e será reaproveitado.

O projeto da Secretaria do Ambiente e Sustentabilidade do Rio oferece a jovens um curso de seis a nove meses, para aprender ciências da natureza, participar de oficinas com materiais recicláveis e executar planos para resolver um problema ambiental específico da região em que moram.

Os jovens entre 16 e 24 anos recebem uma bolsa mensal de duzentos reais, têm aulas duas vezes por semana. Aprendem o que são ciclos biológicos, mudanças climáticas e hábitos de consumo que impactam a natureza. Visitam o AquaRio, aquário marinho e o BioParque, antigo Jardim Zoológico.

Os projetos surgem espontaneamente, da realidade vivenciada pelos cursistas. Por exemplo: em Três Rios, cidade próxima à divisa com Minas, os alunos produziram ecobarreiras para bloquear a passagem de resíduos nos rios e evitar enchentes. Em Campo Grande, na zona oeste do Rio, foram coletados pneus para construir lixeiras de resíduos orgânicos e recicláveis.

Os jovens também ajudam a recolher o entulho junto aos cursos d'água, fazem a reposição da mata ciliar, plantam mudas em espaços vazios, conscientizam a população da necessidade de olhar com carinho para a natureza e crescem, ecologicamente, como seres responsáveis pelo futuro.

Mais do que isso, as turmas criam sabão em barra feito com sabonetes usados e o que sobra de óleo de cozinha, cozem roupas, fazem terrários e instrumentos musicais a partir de descartes. E, com isso, descobrem-se profissionalmente. Passam a ganhar dinheiro com jardinagem, tornam-se cuidadores de áreas verdes, líderes de grupo de voluntariado ecológico e incentivadores dos que tornam possível a reciclagem, pois os catadores nem sempre têm noção de ecologia.

Projetos como esse podem ocorrer em todos os lugares. Custa pouco, bem menos do que propaganda institucional ou divulgação de obras executadas pelo Município. Por sinal que, se a gestão transparece, não há necessidade de se propagandear. A melhor publicidade é o resultado do trabalho. Jundiaí teria muito a mostrar ao mundo, em termos de proteção da Serra do Japy, um privilégio gratuito, de que muito poucos municípios do planeta podem se vangloriar de possuir.

 

José Renato Nalini é diretor-geral de universidade, docente da pós-graduação e Secretário-Geral da Academia Paulista de Letras (jose-nalini@uol.com.br)

 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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