Opinião

Sinais positivos em cenário desafiador

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O Comitê de Política Monetéria (Copom) do Banco Central começa hoje uma nova reunião para definir a taxa básica de juros da economia, que será anunciada amanhã. Embora não faltem motivos para o BC diminuir a Selic, que em 13,75% resulta no maior juro real do mundo, próximo de 7% ao ano, poucos acreditam numa redução já. Mas, diante dos últimos acontecimentos, é de se esperar que a autoridade monetária, pelo menos, deixe a porta aberta para iniciar o processo de queda na reunião de agosto.

Uma série de dados recentes consolidam esta perspectiva. A inflação vem caindo, bem como as expectativas futuras de aumento de preços. Com o índice oficial, o IPCA, de maio menor que o esperado, o percentual acumulado em 12 meses fechou em 3,94%. A previsão é de que encerre o ano um pouco acima dos 5%, ainda fora da meta, mas em trajetória descendente. Além disso, o dólar está em viés de baixa, o que também contribui para conter os preços. No campo fiscal, o novo arcabouço já foi aprovado na Câmara e deve ser votado nos próximos dias no Senado.

Ademais, a agência de risco S&P divulgou, na semana passada, que mudou a perspectiva de rating (nota de crédito) para o Brasil de neutra para positiva. Foi a primeira alteração em mais de quatro anos. Segundo a agência, aumentou a possibilidade de que o crescimento econômico do Brasil seja mais substantivo com a estabilidade das políticas monetária e fiscal. Mesmo com déficits ainda altos, a S&P acredita que o crescimento contínuo do Produto Interno Bruto (PIB) e o novo marco fiscal podem fazer com que a dívida pública cresça menos que o esperado inicialmente.

De fato, o PIB do primeiro trimestre de 2023 foi uma grata surpresa. O crescimento de 1,9% superou todas as expectativas, sendo a agropecuária a grande responsável por esse número robusto. O país terá uma expressiva safra agrícola este ano, com aumento da produção de grãos de quase 16%. Embora seja um crescimento ancorado em um único setor, tem forte impacto no índice, por isso, os economistas estão refazendo as contas. Agora, depois deste resultado, a Fiesp estima que o PIB deste ano avançará 2,5%.

Mas há pontos de atenção a serem considerados no desempenho do PIB. A indústria de transformação segue sem dinamismo, com recuos nos últimos três trimestres - e a indústria geral veio negativa no último trimestre de 2022 e no primeiro de 2023. Os investimentos também caíram por dois trimestres seguidos, sendo que a Formação Bruta de Capital Fixo apresentou queda expressiva. Este fraco desempenho dos investimentos compromete a sustentabilidade do crescimento futuro. Por fim, a demanda doméstica vem se reduzindo.

Dois quesitos importantes são a dificuldade de acesso ao crédito para as empresas e a inadimplência de pessoas físicas e jurídicas. Ambos aspectos são bastante impactados pela taxa de juros que, quando for flexibilizada, poderá dar um oxigênio novo para o consumo e os investimentos.

Um gás extra poderá vir do "Desenrola Brasil", programa lançado pelo governo federal para possibilitar que dívidas de pessoas físicas sejam renegociadas. O objetivo é ajudar os endividados a saldarem seus débitos, organizando os agentes do mercado para a renegociação, em ambiente virtual, por meio de leilão. O governo acredita que 70 milhões de pessoas poderão ser beneficiadas.

O cenário ainda é desafiador, mas sinais positivos estão aparecendo no horizonte.

 

Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do Ciesp e 1º diretor secretário da Fiesp (vfjunior@terra.com.br)

 

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