No mês de junho celebramos com alegria a grande Solenidade do Santíssimo Sacramento do Corpo e Sangue do Senhor. Trata-se de uma festa muito especial na liturgia da Igreja, onde manifestamos nosso amor e devoção à Eucaristia, nosso precioso alimento espiritual, instituído por Jesus para fazermos memória e participarmos do mistério salvífico alcançado por sua morte e ressurreição. Além disso, a tradicional procissão de Corpus Christi evoca todo carinho que nosso povo manifesta ao Santíssimo Sacramento. É preciso, porém, fazer com que toda nossa devoção a Eucaristia traga os frutos espirituais para nossa conversão sincera ao Senhor. Trata-se de compreendê-la, entre outras coisas, como sacramento de unidade da Igreja, sinal de caridade concreta em nossa vida e alimento verdadeiro da esperança em nossa caminhada rumo ao Reino definitivo.
A solenidade de Corpus Christi foi instituída pelo Papa Urbano IV, em 1264, num momento histórico em que várias heresias tentaram diminuir a importância da Eucaristia na vida da Igreja. O preceito trazido pelo pontífice da época teve como objetivo resgatar a unidade e a fidelidade dos fiéis a Cristo, presente realmente nas espécies consagradas. Trata-se de um convite para nos sentarmos à mesma mesa, junto ao Deus Trino de amor, que nos chama a participar do seu banquete eterno. A mesa é o lugar imprescindível dessa comunhão. É assim também em nossas casas. Quando nos sentamos para comer, aprendemos a nos olharmos nos olhos, a partilhar a vida, a colocarmos nossas diferenças e divergências de lado, e a descobrir, a partir do alimento que nos une, um caminho de reconciliação e unidade. Comungar é fazer comunhão. Por isso, nesses tempos dilacerados pela discórdia semeada pelos discursos polarizados, é fundamental descobrir que somos todos convidados à mesma mesa. Os tapetes coloridos da procissão de Corpus Christi evidenciam a beleza da diversidade na vida da Igreja. Deveríamos descobrir nesse gesto um apelo à unidade. Nunca descuidemos dela! Que nossa singularidade nunca seja maior que a nossa comunhão! Formamos um só Corpo em Cristo Jesus! (1Cor 12, 12).
O Corpo de Cristo é alimento verdadeiro. O pão descido dos céus dá vida ao mundo (Jo 6, 33). Por isso, a adoração mais autêntica a Jesus, no Santíssimo Sacramento, deve transbordar numa vida de compaixão e caridade. Adorar a Jesus nos conduz ao compromisso sincero com os mais necessitados. Que a nossa caridade seja concreta, sejamos mesa para o nosso próximo!
Destaca-se aqui as belas iniciativas em várias paróquias e cidades, de levarem alimentos para a procissão de Corpus Christi para depois serem partilhados com as famílias mais necessitadas. Todavia, nunca nos esqueçamos: a caridade verdadeira também nos leva a questionar as causas da fome, as causas da injustiça, como bem nos provocou a Campanha da Fraternidade desse ano.
Por fim, lembremo-nos que a Eucaristia é alimento espiritual verdadeiro. O povo de Deus, enquanto caminhava no deserto, recebeu como dádiva o maná. Diante do cansaço dos passos longínquos da jornada, às vezes somos tomados pelo desânimo. Também hoje, diante de situações de morte, evidenciadas pela guerra, pela violência e pela miséria, somos tentados a não acreditar. É justamente nesses momentos que devemos nos recordar que ainda temos um longo caminho a percorrer. (1 Rs 19,7). A Eucaristia é sinal vivo de esperança. Comungar é trazer os sonhos de Jesus para dentro de nós e encontrar a força que precisamos para nunca voltar atrás. A memória viva do Corpo doado de Jesus nos impulsiona também a nos doarmos cotidianamente em nossa missão. Missa é missão! Sigamos juntos, pois ainda temos um longo caminho a percorrer!
Dom Arnaldo Carvalheiro Neto é bispo diocesano de Jundiaí (verboadm@dj.org.br)