Opinião

Casa cor 36ª edição: 'um abraço'

03/06/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Para os apaixonados por decoração, está aberta a temporada da Casa Cor, feira de decoração e materiais para a casa. Aberto nesta última terça-feira (30), esse evento tem despertado interesse, principalmente com o tema que foi definido pelas curadoras: "Corpo & Morada". Os profissionais que projetaram os 74 ambientes desta edição apresentam projetos em referência à pele em que habitamos: a do corpo, a da casa e a do planeta.

O que me lembrou imediatamente dos arquitetos italianos irmãos Mendini, que falam isso desde a década de 1970 e que não são mencionados pelos curadores. Mas podemos lembrar definições super importantes que defendiam e provocavam.

Em entrevista exibida pelo Canal Arte1 em 2018, eles dizem que "o objeto é uma prótese da pessoa, que serve a ela para desenvolver certas reações; essa prótese pode ser fria e funcional; funciona muito bem, mas não dá nem emoção nem simpatia". E continuam, dizendo que "a casa é um acúmulo de lembranças, um acúmulo de objetos simpáticos, que deveriam corresponder ao caráter do indivíduo; é como uma roupa; alguém usa uma roupa que é uma prótese sua e do mesmo modo usa uma casa".

Os Mendini, que foram diretores das revistas Domus (1980-85, 2010) e Casabella (1970-75) e revolucionaram o mundo do design e da arquitetura com reflexos mesmo na sua casa com objetos que são, originalmente, de criação deles, copiados ao infinito que acabam, anonimamente, fazendo parte do nosso cotidiano. A mais famosa delas é o abridor de garrafas de vinho que é uma bailarina; também se apropriam de objetos pra dar uma cara diferenciada como a cafeteira italiana, onde colocam uma cor em cada face. Mas é uma pena que não façam menção deles nessa edição, muito embora o tema venha muito de encontro com o que eles produziram.

A Casa cor esse ano está maior ainda. Com 11 mil m², tem espaços com grandes árvores sobre as lajes do icônico edifício Conjunto Nacional na Avenida Paulista, formando jardins absolutamente inusitados, já que não é possível plantar ali, mas fizeram. Dos ambientes mais inusitados para o evento, o da arquiteta e ativista Ester Carro, que teve a coragem de trazer uma casa decorada para uma família de baixo poder aquisitivo, nesse ambiente parece controverso essa instalação, mas a arquiteta está com sua proposta para que possamos conferir.

Outra notícia importante foram os prêmios conquistados por  brasileiros: mais de 15 arquitetos e designers na iF Design Award em Berlim e o Leão de Ouro por Melhor Participação da Bienal de Arquitetura Veneza de 2023  recebido pelo arquiteto Paulo Tavares e pela arquiteta Gabriela de Matos, curadores do Pavilhão Brasileiro "Terra".

Por outro lado, o que se pode afirmar é que a maioria dos projetos apresentados nesta edição da Casa Cor é produto de programas de computador e de marcenaria "computadorizada", o que de certa forma não traz para o público esse "abraço" acolhedor que as curadoras queriam que acontecesse. O espaço projetado por Brunette Fracarolli é um exemplo de como isso acontece, o ambiente parece estar ainda no computador, uma imagem virtual de um projeto, o que deixa mais evidenciado esse panorama do design de interiores.

Eduardo Carlos Pereira é arquiteto e urbanista (edupereiradesign@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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