Opinião

O Holocausto em exposição

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Nesta semana a Christie's, a mais prestigiosa casa de leilões, realizou uma importante venda de joias. As joias provenientes do espólio de Heidi Horten, uma filântropa austríaca, arrecadou 202 milhões de dólares, cerca de 1 bilhão de reais, tornando-se a venda de joias de maior sucesso da história dos leilões.

A casa de leilões, no entanto, sofreu duras críticas da comunidade judaica pela venda dos lotes. Isto por causa do marido de Horten, Helmut Horten, um empresário e bilionário alemão que começou a acumular sua fortuna comprando com desconto os negócios de judeus forçados pelas circunstâncias e decretos a vender suas empresas durante o Holocausto.

A fortuna da família foi motivo de inúmeras matérias em jornais e nas redes sociais. Antes das manifestações, a casa de leilões anunciava que as joias eram "incomparáveis" e "uma verdadeira personificação da elegância atemporal, glamour e gosto por colecionar da Sra. Horten", mas as relações de propriedade, na qual a fortuna foi acumulada, provêm do período em que os judeus eram conduzidos aos campos de concentração onde suas joias e tudo o que tinham eram confiscados.

O presidente da Fundação dos Sobreviventes do Holocausto nos Estados Unidos, David Schaecter, que representa grupos de apoio às famílias das vítimas, chamou a venda de "terrível" e disse que perpetuou "um padrão vergonhoso de encobrir os aproveitadores do Holocausto". Mais dois advogados escreveram à Christie's expressando preocupação de que a venda "pudesse ter violado os direitos de restituição dos herdeiros das vítimas do Holocausto".

Em nota, funcionários da casa de leilões afirmaram que nenhuma das 700 joias que estavam à venda foram adquiridas ou confiscadas de judeus na época do Holocausto, mas a própria Christie's, que em material promocional não mencionava a ligação da fortuna da família com os nazistas, passou a referenciar as joias como sendo compradas de empresas judaicas e anunciou a doação de parte do valor arrecadado para instituições.

A história do Holocausto não pode ser ignorada. A oportuna exposição "Holocausto: para que nunca se negue, para que nunca se esqueça e para que nunca mais se repita", inaugurada na última quinta-feira, dia 11, no Museu Histórico e Cultural - Solar do Barão, vem lembrar o quão trágico foi o nazismo, que precisa sim ser lembrado, repudiado e sobretudo jamais repetido.

Em artigo do dia 17 da seção Opinião deste Jornal, Fernando Bandini descreveu maravilhosamente um dos pontos importantes ao qual a exposição nos faz refletir. Escreveu ele que "um cuidado essencial dos organizadores foi demonstrar que a barbárie não nasce ao acaso, do dia para a noite, mas que é gestada cuidadosamente, disseminada por preconceitos e estereótipos repetidamente espalhados".

A abertura da exposição contou com a presença de Ariella Pardo Segre e Gabriel Waldman, judeus sobreviventes do Holocausto e do rabino Toive Weitman, diretor do Memorial da Imigração Judaica e do Holocausto de São Paulo, que trouxe a instalação "Shoá: como foi humanamente possível?" para o espaço expositivo do solar.

A exposição fica em cartaz até o dia 6 de agosto, com entrada gratuita e faixa etária indicada para maiores de 12 anos no Solar do Barão, na rua Barão de Jundiaí, 762, Centro.

Eduardo Carlos Pereira é arquiteto e urbanista (edupereiradesign@gmail.com)

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