Opinião

Educação responsável

18/05/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Todos pontificam sobre educação. Principalmente quem elabora consultorias milionárias, mas nunca enfrentou uma sala de aula. As receitas são as mais variadas, mas o resultado é catastrófico. O Brasil continua a produzir iletrados. Não só os que têm dificuldade de leitura e não sabem escrever. Mas iletrados num sentido mais amplo: não têm noção dos perigos que rondam a humanidade e que foram produzidos pelo bicho-homem.

A insensata exploração da natureza, como se fora um supermercado gratuito, do qual tudo se leva, nada se repõe. A cobertura vegetal que fez os portugueses pensarem haver chegado ao Jardim do Éden, escasseia e causa catástrofes cada vez mais frequentes. O brasileiro adotou a vocação de fabricar desertos. Ou de transformar os espaços em imundas latas de lixo.

A cada árvore que desaparece, é um acervo de valor incalculável que se extermina. Quando é necessário repor uma árvore que o tempo fez sucumbir, a devolução à Terra deveria ser cêntupla. Sim: replantar cem mudas em lugar do exemplar adulto que morreu. Isso porque há um tempo necessário para o crescimento, para o completo desenvolvimento, para que a árvore possa devolver à natureza os ecosserviços gratuitos que costuma oferecer.

A primeira escola é o lar. Mães e pais deveriam incutir em suas crias a responsabilidade ambiental. Mostrar que vegetação equivale a água e que água equivale a vida. Sem árvores não teremos água. Sem água, não subsistiremos.

As famílias deveriam fiscalizar o que se ensina em sala de aula e verificar se o projeto pedagógico inclui ecologia, ética ambiental, respeito a toda espécie de vida. E exigir reforço, quando constatar no convívio diário, que os alunos não têm demonstrado essa responsabilidade. Uma educação integral teria de ter como foco primordial a salvação da humanidade. Ela nunca esteve tão próxima do perigo como agora.

Além do replantio dos milhões de espécies dizimadas pela ignorância e pela ganância, a humanidade precisa deixar de ser a maior produtora de descarte que já se registrou na história.

A cultura do desperdício impera. Tudo é descartável. De alimentos a roupas, de embalagens a objetos que poderiam ser reaproveitados. Essa indigência ecológica faz do Brasil um dos maiores produtores de "resíduos sólidos" do planeta. E a maior parte daquilo que desperdiçamos é valioso e útil. Tanto que, em vez de se pagar pela coleta de lixo, este deveria ser vendido para que as empresas que o recolhem ganhassem com seu aproveitamento.

Nações realmente evoluídas têm uma política de logística reversa bem consolidada. Quem produz algo útil tem a obrigação de acompanhar a vida útil desse produto e de cuidar daquilo que resta quando a utilização original não for mais possível. É o que ocorre na Escandinávia, por exemplo. Aqui, a boa prática da reciclagem não decorre de consciência ecológica, mas de miséria. São os pobres os catadores daquilo que jogamos às ruas, de maneira irresponsável, como se não houvesse uma destinação específica para o que produzimos de resíduos.

Uma educação responsável, obrigação da família, do governo e da sociedade, não poderia deixar de lado essa consciência. Decorar informações já não é mais necessário. O Google responde com exatidão e eficiência maior. Cuidar do destino da Terra e da humanidade é a única real e importante lição a aprender.

José Renato Nalini é diretor-geral de universidade, docente de pós-graduação e Secretário-Geral da Academia Paulista de Letras (jose-nalini@uol.com.br)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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