Opinião

O Brasil na corrida do Hidrogênio Verde

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Na semana passada, abordamos neste espaço a corrida mundial em curso pelo hidrogênio verde, considerado estratégico na transição para uma economia de baixo carbono - uma necessidade diante da emergência climática - e apontado como o combustível da próxima década. Agora, vamos mostrar como o Brasil está posicionado neste grid.

O país tem claras vantagens competitivas para despontar como um importante player neste mercado. Com abundante potencial de energia renovável, o Brasil dispõe de vastos recursos naturais, como muitos dias de sol, ventos fortes e constantes, além de espaço para instalação de usinas eólicas e solares favorecendo, portanto, o desenvolvimento da cadeia do hidrogênio verde (e também do azul, que é de baixo carbono).

Uma vez que a matriz elétrica brasileira já é muito mais limpa do que a das economias relevantes do mundo - e gera energia renovável a um custo relativamente baixo - há boas oportunidades para descarbonização do setor industrial, da mobilidade de grande porte e para as exportações.

A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) que subsidia o Ministério de Minas e Energia (MME) com estudos e pesquisas para fazer o planejamento do setor energético estima que o Brasil tem potencial para produzir 19,5 milhões de toneladas de hidrogênio de baixo carbono por ano.

Por ser um mercado incipiente, contudo, ainda não existem políticas públicas específicas para o incentivo do hidrogênio verde. O governo passado, em 2021, lançou o Programa Nacional do Hidrogênio, no âmbito do Ministério das Minas e Energia, com o objetivo de fortalecer esta indústria como vetor energético no país. No entanto, este programa também contempla a energia gerada com combustíveis fósseis.

De qualquer forma, o desdobramento das diretrizes do programa é complexo. O caminho a percorrer para que a futura estratégia nacional possa ser considerada madura ainda é longo.

Sem políticas públicas e regulamentação definidas, no momento, o que há de concreto em relação ao hidrogênio verde são iniciativas de empresas privadas. Elas estão tentando criar este mercado, instalando-se próximas a áreas portuárias, de olho na exportação.

O grande projeto de escala industrial em curso no país é da Unigel, produtora de fertilizantes. A fábrica será sediada no Polo Petroquímico de Camaçari, na Bahia, e contará com a tecnologia de eletrólise (processo no qual a energia elétrica decompõe a molécula de água em hidrogênio e oxigênio) da empresa alemã thyssenkrupp. A Unigel planeja investir US$ 1,5 bilhão no empreendimento até 2027, e produzir 100 mil toneladas anuais de hidrogênio verde e 600 mil toneladas/ano de amônia verde.

Também há projetos em desenvolvimento no Porto do Açu (RJ), Complexo Industrial e Portuário de Suape (PE) e no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CE).

O maior desafio para que o hidrogênio verde seja adotado em larga escala é o preço da energia, que representa 70% dos custos de produção. E são grandes os volumes de energia necessários para a operação dessas plantas. Reforços nas redes de distribuição e transmissão devem ser pontos de discussão, em conjunto com os incentivos fiscais e regulatórios.

Os primeiros entrantes no mercado de hidrogênio limpo do país protagonizarão as necessárias negociações com os órgãos públicos para promover a correta operacionalização das plantas e elevar a competitividade do preço de energia. Vale lembrar que há uma corrida global em curso. Por isso, o poder público nacional não pode demorar a estruturar este mercado.

Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do Ciesp e 1º diretor secretário da Fiesp (vfjunior@terra.com.br)

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