Opinião

Busca pela perfeição e educação parental

06/05/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Tenho estado bastante preocupada com contextos e situações que tenho me deparado nos últimos tempos e, como já abordado aqui anteriormente, uma das questões que mais tem me tocado e chamado a atenção é a da proteção à infância e à adolescência. E não há como falar de proteção à infância e adolescência sem falar de educação parental.

Utilizando um recorte, tenho lido e escutado que o maior desafio na educação respeitosa dos filhos é a falta de paciência e o cansaço do dia a dia.

E, sim, essa é uma realidade. Muitas vezes as figuras cuidado e segurança familiar das crianças e adolescentes estão sobrecarregadas por outras demandas além dos filhos. E isso se torna uma grande dificuldade, pois é extremamente difícil ser generoso quando se está muito cansado, estressado ou com muitas demandas.

Uma coisa que venho aprendendo e praticando, cada vez mais, desde que me coloquei na trilha de ser uma terapeuta do cuidado informado sobre trauma é estar mais atenta. Aos sinais do meu corpo e aos meus próprios limites. Muitas vezes achamos que precisamos "performar de maneira excelente". Temos que dar conta de tudo. Dar conta de fazer tudo e muito bem feito.

Não, não é sobre isso!

Daí então que me vem a ideia de que quando cuidadores e responsáveis familiares olharem para a relação com suas crianças e adolescentes e começarem a entender que não é sobre performance ou sobre perfeição, mas sobre como reduzir os danos, uma virada de chave é perfeitamente possível. Não é sobre o que se faz ou se deixa de fazer para ser excelente e sim redobrar a atenção em reduzir os danos ao invés de se colocar em uma luta nem sempre bem sucedida, uma ansiedade por aumentar a janela de paciência.

Ser mais gentil consigo proporciona ser mais gentil, generoso, tolerante e respeitoso para com o outro. Estar atento aos limites e aos sinais que o corpo dá, quando se adentra em campo minado de lutar contra as emoções somatizadoras de ansiedade muitas vezes, por não dar conta de tornar a paciência mais elástica pode ser um caminho. Já ouviu falar que se paciência pudesse ser vendida, todo o mundo compraria? Pois é...

Respeitar os próprios limites, diferenciando-os de limitações, pois são coisas completamente distintas. Isso é reduzir os danos, em lugar de querer esticar a paciência.

É preciso coragem para olhar o que está acontecendo dentro. Com sinceridade, com honestidade.

Fazer pequenas pausas. Só pausando e olhando para dentro é que se percebe o abdômen e a coluna travados, o estômago torcido, a respiração acelerada, o batimento cardíaco alterado e por aí vai. Tudo isso faz com que nosso corpo físico, extraordinário como é, grite e alerte de que uma inflamação está instalada ali. Ele grita porque não aguenta mais! E isso tudo desemboca ali, no que citei no início desse texto : sentir-se terrivelmente fracassada e fracassado na missão de educar bem.

Abrir mão de performance e busca por perfeição no modelo de educação de filhos, muitas vezes por necessidade de validação exterior, seja pelas próprias crias, seja pelas outras pessoas cercantes, pode trazer um alívio imediato, protetivo e saudável para todos. Reduzir os danos traz, adivinhem? Exatamente mais paciência, aquela que tanto se almeja!

Márcia Pires é sexóloga e gestora de RH (piresmarcia@msn.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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