Opinião

Que história é essa?

28/04/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Pergunta sempre importante, especialmente após rápida pesquisa na nossa história ao encontrar dados de que não fomos "descobertos"; que fomos colonizados por degradados; que os irmãos indígenas que aqui viviam eram em número muito elevado (milhões que foram dizimados nas tentativas de escravização e por puro prazer de matar... mascarados sob alegação de que assim agiam em nome da fé!); que os tão valorosos bandeirantes embrenhavam-se nas matas na busca de pedras preciosas, quando, na verdade verdadeira, nem calçados tinham, muito menos armas de fogo, ou mesmo roupas apropriadas (botas, casacos em couro) pois, na real, eram descendentes de indígenas, maltrapilhos que caçavam seus iguais para que fossem escravizados.

Assim a imagem dos "bandeirantes" que nos é apresentada: homens brancos, fortes, barbas bem feitas, bem armados e bem vestidos não são verdadeiras!

Ao depararmos com esses dados, a indignação é brutal, diante do mascaramento da verdade vez que se confirma o interesse único em prestigiar um único segmento, tido e mantido até os dias atuais, com a valorização de rodovias com o nome deles, palácio do governo, praças, escolas, monumentos homenageando essas pessoas!

Venho sustentando, há bastante tempo, que se a verdade fosse exposta tal qual se exige, a situação, sem dúvidas, seria muito diferente. Lembrando, por exemplo, que os europeus que aqui chegaram eram muito pobres e foram presenteados com lavouras pré-lavradas e demais benefícios/facilidades, sendo que os que detinham poderio econômico não deixaram seus países para se aventurar em terras recém "descobertas". Isso é lógico e real.

Diante desses fatos, se confirma o total desrespeito ao que determina a Lei obrigando a entrega de educação de qualidade conforme preveem os artigos 205 e seguintes da Constituição Federal. Extrai-se que o descumprimento da lei, visa manter os privilégios, por exemplo, da minoria branca. Vejam o descaso com a implementação da lei que obriga o estudo da história da África, africana, afro-brasileira e indígena, pois que, a partir disso, com qualidade e com a verdade, grande parte (ou tudo) que constou do material didático será desconsiderado, porque divorciado da verdade verdadeira.

Penso que se a verdade histórica fosse apresentada como se devia, com qualidade, respeito e dignidade, certamente a desigualdade enfrentada nos dias atuais seria superada e todos ganhariam, uma vez que a exclusão imposta não se justifica na exata medida que devemos ser tratados enquanto Seres Humanos, "iguais mas diferentes".

Com já disse, "eu tenho um sonho", e a partir de estudos honestos, seguramente esse sonho poderá e será realizado, fazendo com que as pessoas sejam avaliadas pelo seu caráter e não pela cor da pele, religião, orientação sexual, idade etc.

Uma das formas para acelerar essas mudanças é manter sempre presente a seguinte indagação: "COMO GOSTARIA DE SER TRATADO?".

É até simples: basta se colocar no lugar do outro e passar pelo que ele passa.

Indagação clássica: "Gostaria de ser tratado como os negros foram e são (tratados)?", porque enquanto longe da realidade não se consegue avaliar, com firmeza, o enfrentamento e o estrago experimentado pelos integrantes da comunidade negra, pelas mulheres, idosos, pessoas com deficiência.

O distanciamento da realidade faz com que políticas publicas efetivas não são implementadas. A adoção das medidas jurídicas contra ofensas raciais, por exemplo, não recebe o tratamento devido, porque quem pode exigir e dizer o direito, invariavelmente, não integra o conjunto, não sendo estranho depararmos com o espanto demonstrado por referidas pessoas quando lhes são apresentados tais fenômenos.

Para os que estão longe dessa realidade, diante de situações de crise ou irregularidades, dizem com naturalidade: "lista negra", "mercado negro", "cambio negro". "denegrir" e por ai vai, sem sequer imaginar o quanto isso incomoda os integrantes desse contingente!

Somente com educação de qualidade e apresentando verdade verdadeira todo estrago e dissabores serão eliminados. EU TENHO UM SONHO!

Eginaldo Honorio é advogado, doutor Honoris Causa e conselheiro estadual da OAB/SP (eginaldo.honorio@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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