Opinião

Desperdício d'água: onde Jundiaí está?

20/04/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Ouço com frequência que Jundiaí resolveu seu problema d'água até 2050. Quero crer seja verdade. Já ouvi críticas sobre a necessidade de se buscar água no Atibaia. Nossos Guapeva e Jundiaí não são suficientes? Não seria mais vantajoso redescobrir os córregos submersos, cujo espaço foi cedido para o asfalto? Também não tenho ouvido falar na associação Mata Ciliar. Fomos pioneiros no reconhecimento dessa questão e parece que o entusiasmo arrefeceu. Ou não?

O fato é que o ranking anual de saneamento divulgado pelo Trata Brasil não traz Jundiaí na relação das vinte melhores, nem das vinte piores, quanto à perda da água tratada.

As cem maiores cidades do país chegam a perder, em média, 36% da água tratada. Dez municípios com os piores índices, desperdiçam de 52% a 77% da água submetida a tratamento.

Verdade que os vinte maiores municípios do Brasil congregam 99% da população com aceso a água potável, 98% com serviço de coleta e 80% com tratamento de esgoto. São José do Rio Preto foi a melhor cidade em termos de distribuição de água e coleta e tratamento de esgoto. Logo em seguida está Santos, depois Uberlândia, Niterói, Limeira, Piracicaba, São Paulo-capital, São José dos Pinhais, Franca, Cascavel, Ponta Grossa, Sorocaba, Suzano, Maringá, Curitiba, Palmas, Campina Grande, Vitória da Conquista, Londrina e Brasília.

Sinto não ver Jundiaí entre as vinte melhores, já que há pouco recebi uma mensagem dessas tipo tik-tok indicando nossa terra como a segunda melhor de todo o Brasil. É bom, de qualquer forma, não estar entre as vinte piores: Caucaia, no Ceará, Cariacica-ES, Manaus, Pelotas, Belford Roxo, São Luís, Jaboatão dos Guararapes, Gravataí, São João de Meriti, Duque de Caxias, Ananindeua-PA, Várzea Grande-MT, Maceió, Rio Branco, Belém, São Gonçalo, Santarém, Porto Velho, Marabá e Macapá.

Também conforta saber que não estamos entre as vinte cidades com mais perdas: Porto Velho, Macapá, Rio Branco, Várzea Grande, São Luís, Mossoró, Natal, Manaus, Boa Vista, Ribeirão das Neves, Salvador, Canoas, Mauá, Cuiabá, Camaçari, Piracicaba, Pelotas, Rio de Janeiro, São Vicente e Olinda. Aqui, a perda na distribuição de água é superior à metade: 51,7% de perda!

A divulgação é um alerta para os prefeitos. As cidades precisam ampliar os serviços de saneamento ou copiar São José do Rio Preto. Mas o grande desafio é fazer com que o prefeito se convença de que saneamento básico pode não dar voto, pode não ser palanque, mas representa segurança para o futuro das crianças.

Pode-se viver sem petróleo, mas não se vive sem água. E Jundiaí deveria cuidar melhor de sua Serra do Japi, embora se diga que de lá não vem água suficiente. Mas ela garante o microclima abençoado em que se vive. E recuperar os córregos. E replantar, cobrindo as chagas abertas pela cupidez e pela ignorância. Sempre de braços dados, a desmatar, a destruir a biodiversidade e a semear a desertificação.

Uma administração participativa precisa divulgar o quanto se emprega em saneamento básico per-capita. E alertar a população para o comportamento moral que se espera de uma cidadania ética e consciente. Afinal, investir em saneamento não é gasto. É prevenção de enfermidades, redução de perdas de aulas e dias de trabalho. O Brasil registrou, em 2019, 273 mil internações por conta de doenças hídricas.

E melhorar também nesse ranking. Não nascemos para a mediocridade. Afinal, "etiam per me brasilia magna"...

José Renato Nalini é diretor-geral de universidade, docente de Pós-graduação e Secretário-Geral da Academia Paulista de Letras (jose-nalini@uol.com.br)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.