OPINIÃO

O interesse por Arte nunca foi tão grande!


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A SP Arte, realizada no edifício da Bienal, teve repercussões as mais inesperadas - e êxito.

Já na entrada, sem filas e sem nenhum morador de rua, percebia-se um ambiente distante daquele da entrada, por exemplo, da Pinacoteca de São Paulo.

O edifício da Fundação Bienal propiciou a entrada segura de milionários rapidamente. Lá dentro, um show de milhares de dólares em obras de arte, distribuídas pelas paredes dos stands de cada galeria, em sucessão. Volpis foram expostos às dezenas, com preço nunca inferior a 1,5 milhão. Outras estrelas do desejo dos ricos e colecionadores foram apresentadas e muitas arrematadas por valores astronômicos. Antonia Bergamin, da galeria Galatea, disse em entrevista ao Jornal Folha de São Paulo que vendeu cerca de 54 obras, que se estimam em valor de aproximadamente 12 milhões de reais.

O imenso público, que chegou a 30 mil visitantes, acabou por atrapalhar as vendas, segundo os galeristas. Isso porque essa feira, inicialmente dirigida a um mercado seleto de compradores, colecionadores e investidores, era tradicionalmente inaugurada por um grupo especifico de convidados. A partir deste ano passou a ser aberto à visitação geral. Marchands tiveram que trabalhar mais com o social que com negociações. O público que pudemos acompanhar mostra que a arte é um assunto de consumo que interessa a muita gente, mas adquirir continua para muito poucos.

Foi unânime entre os galeristas, tanto os maiores quanto menores, a constatação da alta demanda por obras de arte. Para André Millan, da galeria Millan, essa edição  foi mais proveitosa que a dos anos anteriores, pois fechou um ciclo marcado pelos anos de pandemia e abriu novas oportunidades de venda para colecionadores estrangeiros, com a melhora da imagem do Brasil no exterior pós saída de Jair Bolsonaro e o retorno de Lula à presidência.

Nessa feira o que ficou mais evidente foi a expansão dos móveis de design brasileiro, especialmente os da década de 70 e anteriores, até os anos 1950. Um andar inteiro foi dedicado a esses pioneiros do mobiliário brasileiro em galerias que os representam ou reeditam. O que demonstra não só o interesse, mas a valorização e a escassez desses móveis produzidos quase artesanalmente.  Nesses casos, o valor se deve ao desenho original do autor, que é raridade. Assim, na galeria Século XX houve o lançamento da reedição da Poltrona BERTIOGA de Jean Gillon, considerada a bola da vez.

 A Galeria Artemobilia, de Sérgio Campos, aproveitou o evento para lançar seu novo livro  “Lina Bo Bardi Designer: O Mobiliário dos Tempos Pioneiros 1947 – 1958” que, com 354 páginas, descortina com todas as informações, estudos e pesquisas o início do design brasileiro e reafirma a designer Lina Bo Bardi como a pioneira no país. Editado pela Artemobilia Publicações, em parceria com o Instituto Bardi, pode ser adquirido na livraria Martins Fontes.

Outra atração da feira foram os eventos promovidos pela empresa Vivo, que reuniu palestras especialmente relacionadas à comunidade LGBTQIAPN+. Um dos nomes importantes foi o do cubano Andrés Hernández, que chegou a afirmar QUE nem mesmo dentro da SP-Arte havia artistas LGBTQIAPN+. Hernández é doutor pela Unicamp com a tese intitulada “Arquitetura, Corpo e Estrutura: Características das obras de arte tensionadas pelo espaço arquitetônico – casos de Havana e São Paulo”.

Com tudo isso, os reflexos serão sentidos no mercado secundário de móveis, que serão copiados e reproduzidos ao infinito, inspirados ou não pelos conceitos que a feira mostrou. Talvez para todos seja o maior benefício e a justificativa do apoio da Lei Rouanet.

Eduardo Carlos Pereira é arquiteto e urbanista (edupereiradesign@gmail.com).

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