Opinião

Temos seguido o exemplo?

06/04/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Hoje é quinta-feira Santa. Por quê? Foi o dia em que Jesus, para se despedir de seus discípulos, pois o fim estava próximo, reuniu-os numa ceia. Foi durante esse encontro à mesa, que instituiu a Eucaristia. Prometeu estar com cada um, até o final dos tempos, se praticassem a comunhão.

Comum união! Os cristãos que tiveram o privilégio de conviver com o Messias e assistir à profusão de milagres que ele realizou, ficaram tão envolvidos e impregnados por essa presença divina, que viviam - verdadeiramente - em comum união. Tanto que os pagãos, ao vê-los, diziam: "Vêde como se amam!". Eram todos por um, um por todos.

Verdade que essa tendência anarquista dos primeiros cristãos, na mais saudável semântica - viver sem a necessidade de qualquer autoridade - foi combatida por Paulo, o Apóstolo dos Gentios. Ele não teve contato com o Cristo, mas converteu-se após sua cegueira e a célebre indagação: "Saulo, Saulo: por que me persegues?".

Foi Paulo quem lembrou aos irmãos que o fim do mundo poderia demorar. Como está, realmente, demorando. Enquanto isso, deveriam cuidar de sua vida e das rotinas que impõem trabalho, repouso, mais trabalho, menos repouso... A luta diuturna pela sobrevivência digna. Vamos trabalhar, minha gente! Cristo não mandou que todos ficassem no ócio, à Sua espera.

Mas o que interessa na Quinta-Feira Santa é refletir sobre esse mistério da Eucaristia. Poder consumir o próprio Criador! Algo que os judeus observam com acuidade: "Se eu acreditasse que o meu Deus estaria no sacrário, eu procuraria não sair de perto Dele!...". Entretanto, não é o que acontece.

Importante mensagem o Cristo deixou na Quinta-Feira Santa. Lavou os pés dos seus discípulos e os beijou. Há gesto mais humilde do que esse? Os pés que pisam o chão e suas sujeiras, os pés mal cuidados de gente muito rústica, sem a submissão periódica aos pedólogos, foi essa a escolha do Filho de Deus.

Evidente que pretendeu reforçar aquilo que já dissera antes, em suas parábolas. O bom samaritano, a cuidar com desvelo de um estrangeiro considerado inimigo. A menção aos famintos, aos necessitados, aos enfermos e aos presos. "Estive preso e não me visitastes!"

Como andamos esquecidos do verdadeiro Cristianismo. O que fazemos por nossos irmãos? Como nos comportamos diante da miséria e da fome? O que estamos fazendo para incluir nossos semelhantes na vida digna prometida pelo constituinte de 1988 e, antes disso, uma imposição com a qual não se pode transigir, obrigatória a todos os que se consideram cristãos?

Esta Semana Santa, que começou no domingo de ramos, a nos lembrar da ingratidão e da superficialidade dos afagos humanos, produzidos quase sempre por interesse imediato, cupidez, ambição, continuou na sequência dos dias. Vias Sacras, a esquecida cerimônia de Trevas, continuará amanhã - Sexta-Feira Maior ou da Paixão - para terminar na Aleluia.

Será que ela nos trouxe oportunidade para pensar se temos seguido o Evangelho, se podemos nos considerar "cristãos" ou se não estamos na situação dos fariseus, dos "sepulcros caiados" que vão ser expulsos e cuspidos da boca do Senhor dos Tempos?

Tenhamos ao menos alguns minutos para rever nossa existência, nossos compromissos e nossas práticas. E nos perguntemos: "temos seguido o exemplo de Jesus Cristo?". Somos cristãos de verdade?

José Renato Nalini é diretor-geral de universidade, docente de pós-graduação e Secretário-Geral da Academia Paulista de Letras (jose-nalini@uol.com.br)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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