Opinião

Pobreza

Por |
| Tempo de leitura: 3 min

Certa feita alguém escreveu: "O sujeito era tão pobre, mas tão pobre que a única coisa que tinha era dinheiro".

A pobreza carrega várias versões, das quais encontramos "pobre de espirito"; de educação; de cultura; de respeito; de dignidade; de amor; mas o que mais chama a atenção é a que está inserida na frase.

Infelizmente tive o desprazer de conhecer pessoas com alto nível financeiro, porém sem o mínimo de educação, respeito e qualquer um dos requisitos aqui mencionados.

A verdade também é verdadeira, pois, com maior frequência, encontramos com pessoas com poucos recursos financeiros, mas com um nível de desenvolvimento humano incomparável àqueles.

Esse tipo de "pobreza" permite que saibam administrar com muita cautela e segurança os poucos recursos que lhes forem disponibilizados. Exemplo clássico e muito recente, são as cotas raciais nas universidades, cujas pessoas que as conquistaram (cotas) apresentam resultados iguais ou superiores àqueles que ingressaram pelo regime universal.

Vale a pena parar para pensar nesses resultados e na origem desses cotistas, os quais, invariavelmente, oriundos de bairros afastados dos centros; criados por "mãe solo" em ambiente desprovido de conforto, alimentação regular, saúde frágil, segurança, família desagregada; enfim, em ambiente propício à destruição do caráter e do desenvolvimento humano.

Independente de tantas e costumeiras dificuldades, esses cotistas alcançaram altos patamares, comprovando alto nível de desenvolvimento e que, apesar da origem, no mais das vezes, receberam educação de qualidade, que, sem a adoção das politicas inclusivas, dificilmente poderiam demonstrar seu potencial e a sociedade perderia excelentes talentos.

Ainda que apresentem alto nível de preparo e formação superior, a dificuldade se repete por ocasião da colocação ou recolocação no mercado de trabalho, mesmo no acesso via concurso público, vez que não basta preencher os requisitos básicos iniciais, mas que, ao longo do certame, são submetidos a exames orais, médicos, entrevistas pessoais, abrindo-se oportunidade para afastamento de candidatos(as) que não atendam ao olhar do "examinador"! Isso tive o desprazer de conhecer!

A presença desigual, ou melhor, uniforme, nos postos de mando dificulta sobremaneira a entrega da politicas públicas em igualdade de condições, que é o que vimos repetido todos os dias pela imprensa, com ataques raciais e intolerantes contra aqueles "diferentes" (mulher; pessoa com deficiência; LGBT; negros; religiosos), que também tive o desprazer de presenciar, experimentar e, até os dias que correm, não se vê entrega de políticas públicas de vulto direcionadas a esse segmento da sociedade.

Em razão disso, insisto em afirmar: "SÓ QUEM É SABE O QUE É SER" perseguido em supermercados; abordados de forma violenta pela polícia; excluído do mercado de trabalho; comparado a animais; motivo de gracejos e piadas; comparados a fatos, coisas e fenômenos ruins, tais como "lista negra"; "mercado negro"; "câmbio negro"; "denegrir" e por ai vai.

A solução é até simples: basta aproximação, convivência, estudos e, fundamentalmente, respeito. Nesse sentido, como disse Salvador Allende:"Não basta que todos sejam iguais perante a lei. É preciso que a lei seja igual perante todos".

Já escrevi aqui que contamos com leis suficientes à eliminação de grande parte desses conflitos que só não alcançam resultados positivos em razão da desigualdade de tratamento e pela ausência desses personagens nos postos de mando.

Os abusos se repetem e nesta semana uma médica baiana perguntou a uma criança com apenas 3 anos de idade se ela "era filhote de urubu ou de macaco". Como assim, gente? Imaginemos o estrago que isso faz na pessoa!

Nessa esteira, deparamos com indiscutível desrespeito a que incorreram alunas de biomedicina gravando vídeo injuriando outra aluna pelo só fato de contar com 44 anos de idade em autêntico e reprovável ato criminoso que, assim deve ser exemplarmente tratado, com a imposição de pena severa a essas alunas, em "associação criminosa" (pluralidade de agentes).

Aqui vale manter presente a frase do político chileno.

Eginaldo Honorio é advogado, doutor Honoris Causa e conselheiro estadual da OAB/SP (eginaldo.honorio@gmail.com)

Comentários

Comentários