Opinião

EUA: pouso suave ou recessão?

14/03/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Farol global, a economia norte-americana atravessa um momento desafiador, que terá repercussões para os demais países. Equilibrando-se entre um pouso suave e uma possível recessão, os Estados Unidos encaram a difícil tarefa de baixar a inflação para cerca de 2% sem levar a atividade econômica para o campo negativo. Isso depois de atingir uma taxa anual de inflação de 9,1% em junho passado, o maior patamar em 40 anos.

Por isso, o mundo todo está de olho na próxima reunião do Banco Central americano, o Federal Reserve (Fed), marcada para a semana que vem (21 e 22/3). Na ocasião, a depender de quanto subirão os juros, ficará claro com que cenário as autoridades monetárias norte-americanas estão trabalhando.

A atividade econômica nos Estados Unidos está mais resiliente do que o esperado, com demanda doméstica e as projeções de emprego e renda sendo revistas para cima. Indicadores divulgados na última sexta-feira mostram que o mercado de trabalho segue aquecido, com a criação de postos de trabalho: 311 mil em fevereiro, acima dos 225 mil previstos. A taxa de desemprego, embora tenha registrado leve oscilação de 3,4% para 3,6%, continua nas mínimas históricas.

No mercado, o rumo da prosa começou a mudar depois da fala do presidente do Fed, Jerome Powel, em sabatina no Comitê Bancário no Senado, na semana passada. Powel jogou um balde de água fria em quem ainda esperava que o aperto monetário nos Estados Unidos fosse amenizado em breve. Ele sinalizou que os dados econômicos indicam uma economia mais forte do que o previsto e, por isso, o fim do ciclo de aperto monetário deve demorar mais.

Por isso, muitos investidores agora apostam que o Fed vai retomar as altas de 0,5% (depois de ter reduzido o ritmo para 0,25%) e a taxa de juros, ao final do ciclo, deverá ficar entre 5,50% e 5,75%. Inclusive, o cenário de taxa de 6% não está descartado. Algumas consultorias elevaram as projeções do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA este ano de 0,8% para 1,3%, com núcleo da inflação subindo de 3% para 4%.

E quais são as consequências disso? Juros em patamares tão elevados para a realidade norte-americana, provavelmente, levarão a um dólar mais forte, menor crescimento global e queda no preço dos ativos de risco.

Com as previsões para um crescimento da economia chinesa em 2023 mais modesto (5%), frustrando as chances de um rali depois do término da política de Covid zero, os mercados emergentes serão mais impactados porque perdem atratividade.

Os títulos do Tesouro dos EUA, que naturalmente já têm apelo para os investidores, se tornam ainda mais vantajosos, atraindo capital que poderia ter outro destino. O dólar valorizado globalmente termina por encarecer os produtos importados, as commodities e itens de alta tecnologia, entre outros. Isso pode resultar em inflação mais alta no Brasil e em demais países emergentes. Ou seja, trata-se de um cenário global mais desafiador.

Este panorama de juros mais altos por mais tempo nos EUA tende a criar dificuldades para a economia brasileira neste ano, que já está sofrendo em demasia com as elevadas taxas internas.

Aliás, nos mesmos dias da reunião do Fed que indicará os rumos da economia mundial, acontece também a reunião do Conselho de Política Monetária (Copom) do nosso Banco Central. Diferentemente dos EUA, porém, a economia brasileira vem andando de lado.

Com a perspectiva de juros nos EUA mais elevados, a redução dos juros internos pelo Banco Central torna-se ainda mais fundamental. É medida urgente para o país recuperar fôlego e retomar o crescimento.

Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do Ciesp e 1º diretor secretário da Fiesp (vfjunior@terra.com.br)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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