OPINIÃO

A ser verdade...

26/02/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Recebi - e como eu, milhares de pessoas - a relação das quinze cidades mais ricas do Brasil. Para satisfação e orgulho nosso, Jundiaí é a segunda, com a informação de que representamos 51,2 bilhões. Só Campinas, nossa filha, nos ultrapassou. A informação vem da TikTok, não sei se confiável ou não. Espero que seja verdade.

E se assim for, precisamos fazer jus ao vice-campeonato da riqueza municipal. Como? Resolvendo problemas que ainda perduram. Por exemplo: Jundiaí ainda tem favelas. O nome é esse mesmo, não é comunidade. Uma cidade tão milionária tem de ter um projeto adequado para cumprir o mandamento constitucional que assegura moradia a todos os habitantes do Brasil.

Se Jundiaí é a segunda cidade mais bem provida de recursos de todo o país, não pode ter moradores de rua. Nem se justifica a crise por que passam entidades de assistência hoje à míngua, pois a generosidade nem sempre está no radar da maior parte das pessoas.

Conviria prestar mais atenção à sustentabilidade, com projetos de economia circular e de logística reversa perfeitamente viáveis em coletividades tão aquinhoadas. Educação ambiental em todos os níveis, campanhas para conscientizar a população de que não é possível continuar a produzir toneladas de resíduos sólidos, a maior parte deles perfeitamente aproveitável e que deveria ser vendida, em lugar de se pagar para a recolha diária.

A reciclagem deveria ser estimulada, pois é pífio o aproveitamento de materiais valiosos, algo em torno de 2%, o que significa verdadeiro vexame para uma cidade de letrados.

O plantio de árvores nos espaços ociosos, a reposição daquelas que pereceram em virtude das tempestades ou da inevitável passagem do tempo, a disseminação de viveiros por todos os quadrantes, para incentivar os habitantes da "Terra da Uva" a se conscientizarem de que o maior perigo que ronda a humanidade não é a Covid e outras epidemias que ainda virão. Nem a guerra nuclear. Nem o confronto China x Estados Unidos. É o aquecimento global, cuja causa é a insanidade do bicho-homem, que maltrata impunemente a natureza. Refém de duas características comuns à maior parte da humanidade: ganância de braços dados com a ignorância.

E por falar em "Terra da Uva", qual o incentivo que se está oferecendo para que a juventude procure destinos compatíveis com essa vocação? Existem planos de valorização do trabalho agrícola, o planejamento para a ampliação ou renovação dos parreirais, o empenho em favorecer o cultivo de outras espécies e a preservação das tradições peninsulares que trouxeram a vinha para Jundiaí?

Os municípios vizinhos à grande conurbação insensata chamada São Paulo estão se especializando em turismo de fim de semana. Jundiaí, a tão poucos quilômetros da capital, acessível por várias das melhores rodovias do país, mas também servida por ônibus e por trem, poderia explorar melhor os seus predicados. Mas também é preciso incentivar a multiplicação de cantinas, de restaurantes, de propriedades que possam merecer visita e ofertar ao turista a experiência de colher a uva na videira, de verificar como é que se faz o macarrão da "nona", degustar as geleias e os vinhos caseiros.

Talvez se diga que tudo isso já existe. Mas ainda é pouco diante da potencialidade jundiaiense. E como a segunda cidade mais rica do país, não há por que deixar de exigir sempre mais de seu governo e de sua sociedade.

José Renato Nalini é diretor-geral de universidade, docente de pós-graduação e Secretário-Geral da Academia Paulista de Letras. (jose-nalini@uol.com.br).

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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