Opinião

Invista em sua vocação

23/02/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Isso vale para as pessoas: o desafio dos humanos é descobrir o seu talento, o seu ponto forte, aquilo que mais gosta de fazer. E, a partir daí, escolher como sobreviver. Para quem faz o que gosta, o trabalho é prazer. Verdade que muita gente não consegue saber e se entedia com o trabalho. Não é impossível encontrar motivação naquilo que faz. E descobrir veredas para conseguir fazer aquilo de que mais se gosta. Quando fizer essa descoberta! Algo que está dentro de nós e nenhum teste vocacional vai substituir nossa intuição.

Todavia, aquilo que vale para as pessoas, vale para as cidades. Todas elas têm uma vocação. Ou devem eleger dentre inúmeras possíveis. O ideal dos burgos era a autonomia. Não precisar de nada fora das muralhas. Hoje, com a intercomunicação instantânea e aquilo que já se chamou "globalização", não é mais possível deixar de se relacionar. Uma ideia antiga foi a de formar consórcios, para que a experiência das grandes cidades pudesse fornecer elementos de gestão para as pequenas. Algo importante para São Paulo, que tem nada menos do que 645 municípios.

Isso deveria ser feito até para a prestação de contas junto ao TCE. Uma normatividade sofisticada, própria para a Escandinávia, aplicável indistintamente a todos os municípios. Que não têm estrutura, nem competência técnica para responder e, não raro, vão incitar a ira denunciante que os leva a responder por improbidade. Quando, muita vez, não souberam entregar ao TCE aquilo que ele exigiu.

Mas o tema hoje é uma vocação mais atraente. O programa CRIA-SP - tomara não seja interrompido na nova administração estadual - incentiva municípios a descobrirem suas vocações para potencializar áreas como cultura e turismo e estimular a intensificação de uma economia mais criativa.

O pioneirismo está com São Caetano, Bauru, Cubatão, Itanhaém, Presidente Prudente, Ribeirão Preto, Santa Bárbara d'Oeste, Santa Fé do Sul, São Luiz do Paraitinga e Sertãozinho. Formam um núcleo de municípios criativos, escolhidos pelo governo para receberem mentoria especializada, que acompanhará o desenvolvimento daquilo que já nasceu neles, de forma espontânea, como deve ser o cultivo da cultura popular.

Depois disso, tais municípios serão candidatos ao ingresso na Rede de Cidades Criativas da UNESCO. Isso favorece a economia local, cria ocupações rentáveis, inclui as cidades no mapa mundial e alavanca a poderosa indústria do turismo, que salvou países como a Espanha da recessão.

Tais cidades têm ativos importantes e todos conhecemos quais são. São Luiz do Paraitinga é uma cidade histórica, berço de Oswaldo Cruz, tem festas folclóricas. A festa do Divino e o Carnaval atraem milhares de turistas. Preservou a arquitetura colonial e foi reconstruída após a grande inundação de 2010, exatamente como era.

Itanhaém foi um dos primeiros municípios brasileiros. Tem igreja colonial, a pedra chamada "Cama de Anchieta", praias e história. Mas todos os municípios paulistas poderiam acolher a ideia e projetar seus valores. Nossa região é própria para isso. Jundiaí é a terra da uva e do morango, mas também possui restaurantes típicos e inúmeras atrações. Uma Catedral reformada por Ramos de Azevedo, o Parque da Cidade e o Mundo das Crianças. O "bolão", que já foi o maior vão de concreto em curva e ainda hoje um monumento arquitetônico devido ao visionário prefeito Vasco Venchiarutti. Tanta coisa mais a ser mostrada! Vamos disputar a inclusão de Jundiaí no rol da UNESCO!

José Renato Nalini é diretor-geral de universidade, docente de pós-graduação e Secretário-Geral da Academia Paulista de Letras (jose-nalini@uol.com.br)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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