Fevereiro de 2023 é o divisor de águas de Fabiano Silva, jundiaiense que assumiu neste mês a presidência dos Correios. O dirigente foi nomeado pelo Conselho de Administração da empresa, após indicação do Ministério das Comunicações.
A vida no interior, desde então, foi substituída por uma rotina intensa de articulações em tempo integral em Brasília (DF), onde ele reside de segunda a sexta-feira. "E aos finais de semana volto para ver meus filhos", conta ele, que é pai de um casal, de 16 e de 12 anos.
O novo cargo vem depois de anos de trajetória política. Após passar a infância na Região de Jundiaí, Fabiano iniciou a graduação em Direito na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) quase ao mesmo tempo em que filiou-se ao Partido dos Trabalhadores (PT). Em 2000, chegou a candidatar-se a uma cadeira na Câmara de Jundiaí.
Parte de sua carreira profissional foi consolidada na Prefeitura de São Paulo, onde atuou diretamente na Secretaria do Trabalho, desenvolvendo projetos de cadastro para pessoas que moravam em periferias.
Foi secretário geral e consultor Especial da Presidência da Fundação dos Economiários; coordenador geral de Registro Sindical do então Ministério do Trabalho e Emprego; diretor técnico de Departamento e chefe do gabinete do Instituto de Previdência Municipal de São Paulo; assessor da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação; membro da Comissão de Prerrogativas da Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo e diretor de Relações Institucionais do Instituto dos Advogados de São Paulo.
Além de advogado, Fabiano é ainda especialista em Gestão Estratégica de Empresas, mestre em Direito Político e Econômico e doutorando em Direito Previdenciário.
Em entrevista exclusiva ao Jornal de Jundiaí, o presidente fala com firmeza sobre sua principal pauta na gestão: tirar da mira dos Correios a tentativa de privatizar a empresa, tema que foi amplamente debatido em 2021, quando o projeto com esse objetivo foi aprovado pela Câmara dos Deputados.
"Quero trazer esperança para a empresa. Quero afastar o fantasma da privatização que rondou sobre ela, fazer bons negócios e melhorar as condições de trabalho dos funcionários", afirma.
O projeto de lei de privatização dos Correios foi aprovado por 286 votos a favor e 173 contrários. Mas, desde a sessão que o discutiu, está parado no Senado, aguardando apreciação pela Comissão de Assuntos Econômicos.
Uma tramitação que, na visão de Fabiano, não deve ir adiante com o novo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "Desde que Lula foi eleito, ele decidiu retirar essa pauta de discussão. A lei é acompanhada por nós, mas há uma mudança política importante acontecendo."
Em dezembro do ano passado, Paulo Bernardo, ex-ministro das Comunicações de Dilma Rousseff e do Planejamento de Lula, já havia se posicionado a respeito. "Os Correios não serão privatizados", afirmou o político, que coordenou o grupo técnico de Comunicações na transição do petista.
DE POSSE DO ESTADO
A intensidade dos debates em torno da privatização dos Correios se dá, entre outros motivos, pela idade da empresa: são 360 anos desde sua origem, com a criação do Correio-MOR no Rio de Janeiro, então capital da Colônia.
A história da empresa como conhecemos hoje, atendendo a cerca de 5.570 municípios, começou quando com o desenvolvimento dos setores produtivos do Brasil tornou necessária uma reorganização do serviço postal em torno de um modelo mais moderno que o do DCT (Departamento de Correios e Telégrafos), constituído em 26 de dezembro de 1931 e que não apresentava infraestrutura compatível com as necessidades dos usuários. Foi então que no dia 20 de março de 1969, através da Lei nº 509, ocorreu a criação da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (conhecida pela sigla ECT).
A proposta de privatização estabelece condições para a desestatização da ECT e remete a regulação do setor à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Segundo o substitutivo aprovado, do deputado Gil Cutrim (Republicanos-AM), o monopólio para carta e cartão postal, telegrama e correspondência agrupada continuaria com a ECT por mais cinco anos, podendo o contrato de concessão estipular prazo superior.
Para Fabiano, o impacto disso acontecer de verdade seria inimaginável. "É o que o capitalismo mais gosta: o que dá lucro fica com o setor privado, e o que não dá, fica com o Estado. Seria um grande prejuízo aos Correios, que têm um papel tão fundamental na sociedade, inclusive com impacto direto na vida pessoas", defende.
O presidente acredita que, caso a empresa fosse privatizada, o alcance das entregas seria diretamente afetado. "Nós somos a maior operadora logística da América Latina. Empresas privadas nos contratam em virtude da grande quantidade de encomendas. Mas elas não chegariam sozinhas onde a gente chega."
Fabiano conta que, quando assumiu a presidência, já encontrou fragmentos de um início de sucateamento no ar. "Os funcionários viveram o risco disso acontecer e ficou um clima ruim. Houve uma grande retirada dos direitos dos trabalhadores, muitas conquistas perdidas", relembra.
Agora, no cargo, e com aval do presidente da República, ele tenta equilibrar as forças. "É um momento que pede esse esforço, pra que a gente saia de uma história ruim e inaugure um novo ciclo."