Opinião

Brasil no topo dos juros do mundo

14/02/2023 | Tempo de leitura: 3 min

O Brasil figura no topo de uma competição na qual o bom seria estar entre os lanterninhas: somos os campeões mundiais dos juros reais em uma lista de 40 países de economias mais relevantes, segundo ranking Infinity Asset Management/MoneYou.

Desde maio do ano passado, o Brasil segue inabalável nesta liderança, com 7,38% de juro real (já descontada a inflação). Em seguida vêm México, com 5,53%, seguido de Chile, com 4,71%, e Colômbia, com 3,04%. A taxa Selic está em 13,75%, patamar atingido há seis meses e confirmado na primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deste ano, no dia 1º de fevereiro.

Para chegar a esta conclusão, o levantamento considerou uma combinação de inflação projetada para os próximos 12 meses de 5,75%, conforme dados do relatório Focus divulgado pelo BC na última semana de janeiro, e a taxa de juros DI a mercado dos próximos 12 meses no vencimento mais líquido (janeiro de 2024). O relatório Focus é o resultado de uma pesquisa feita pela autoridade monetária com os principais agentes econômicos.

É difícil encontrar uma justificativa técnica para o Brasil encabeçar esta lista e ter juros reais de mais de 7%. Taxas neste patamar encarecem o crédito, inibem os investimentos, prejudicam o consumo e impedem um crescimento robusto. Tanto que a previsão do Focus é de um desempenho medíocre do Produto Interno Bruto (PIB) para 2023 e 2024: 0,79% e 1,5%, respectivamente. Esses percentuais consideram que a Selic terminará o ano em 12,5%.

Como o aumento dos juros leva entre seis e nove meses para que seu efeito seja plenamente atingido, a economia brasileira começa a sentir toda intensidade das taxas elevadas agora. Para a indústria, já é uma das principais preocupações desde o final do ano passado, segundo pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgada em dezembro. O resultado da produção industrial de 2022, que caiu 0,7%, a sexta queda em uma década, reflete o que os empresários já vivenciavam.

Desde 2017 não se via tanta preocupação. Entre os principais problemas apontados pela indústria de transformação, os juros receberam 24,2% das menções. No primeiro semestre de 2021, para efeito de comparação, as taxas elevadas estavam no 13ª no ranking de principais problemas enfrentados pelo segmento. Agora está em quarto lugar.

Treze dos 24 setores da indústria de transformação avaliados dizem os juros altos estão entre os cinco principais desafios. Para o setor de biocombustíveis e o de produtos de material plástico é o maior problema.

Para a indústria da construção, as taxas elevadas também se tornaram o maior problema. Sondagem da Indústria da Construção, divulgada pela CNI em janeiro, revela que os empresários se dizem pessimistas em relação ao nível de atividade no setor.

Dos entrevistados, 30,6% apontam que o principal problema são as altas taxas de juros. O item já havia alcançado a primeira posição no ranking no terceiro trimestre de 2022, mas recebeu 0,6% a mais de menções no último trimestre do ano. Em seguida, a maior preocupação é a elevada carga tributária.

Os dados econômicos refletem uma situação preocupante, de economia andando de lado. O país precisa crescer de forma mais robusta, gerar empregos de qualidade e renda para a população. E os juros excessivamente altos são um entrave para o desenvolvimento do Brasil.

É preciso fazer uma calibragem mais acurada da Selic, equilibrando o controle da inflação e com o estímulo à economia, sob pena de condenar o país ao crescimento pífio nos próximos dois anos.

Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do Ciesp e 1º diretor secretário da Fiesp (vfjunior@terra.com.br)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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