Opinião

Semeando água em Jundiaí

12/02/2023 | Tempo de leitura: 3 min

O atavismo é lei implacável. Somos aquilo que marcou nossos ascendentes. Não se foge à genética. Pelo lado paterno, sou neto de imigrante italiano que deixou sua Verona no final do século XIX e veio para o Brasil fugindo da fome. Encantou-se com a fertilidade das terras jundiaienses. Fez de sua morada, à rua Rangel Pestana 658, uma verdadeira autarquia. Ali se plantava de tudo e se criava de tudo um pouco.

Muito antes do ambientalismo entrar em voga, aprendi com meu avô e com meu pai, que a terra é generosa. Mas que depende de nós.

Não tenho grandes ambições. Procuro incutir em meus filhos e netos o amor pela natureza. Planto continuamente, prosseguindo a missão de meus ascendentes.

Com o intuito de preservar, adquiri uma chácara formada por Water Moretti, no bairro da Tóca. Há poucos anos, eram oito nascentes gerando água em quantidade suficiente para manter o verde. Elas foram secando. Tive de abrir um poço artesiano. É o que garante um pouco de água para um lugar que já foi muito irrigado.

O que estamos fazendo com nosso único habitat? Não temos plano B. O sofrido planeta Terra é aquele com que podemos contar.

Por isso é imprescindível que Jundiaí passe a contar com aquilo que outras cidades já dispõem, ou seja, o Projeto Semeando Água, encarregado da restauração ecológica da vegetação e na conscientização dos moradores de áreas que vão se degradando. O IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas está realizando esse trabalho na cidade de Nazaré Paulista, com o intuito de preservar a represa de Atibainha, que integra o Sistema Cantareira, formado também pelos reservatórios Jaguari, Jacareí, Cachoeira e Paiva Castro. Essas reservas atendem quase oito milhões de moradores na Grande São Paulo.

Jundiaí cresce avassaladoramente. Basta verificar o trânsito pelas manhãs. O número de pessoas que aqui residem e trabalham em São Paulo ou Campinas é cada vez maior. Por isso é preciso convencer os jundiaienses a substituírem práticas convencionais por práticas ecológicas.

O projeto de semear água começou com a proteção das matas ciliares e nossa cidade já tem experiência nisso, com organização exatamente destinada a recompor a mata ciliar. Os cílios que permitem que os veios d'água sobrevivam e não desapareçam, como ocorreu no bairro da Tóca.

A vegetação à beira dos córregos ajuda a infiltração do solo e favorece a regulação de recarga dos reservatórios. Por isso é que se diz, ela, na verdade, "semeia" água mesmo nos tempos de estiagem.

É preciso converter o jundiaiense a preencher os espaços vazios com vegetação nativa. A salvar seus córregos. A tornar a cidade mais verde, com isso equilibrando a temperatura e favorecendo o desenvolvimento de espécies da nossa flora exuberante.

Um projeto desses deveria existir em todas as cidades e Jundiaí, que tanto se orgulha de estar entre as mais requisitadas urbes paulistas, precisa se destacar também nisso. A educação ambiental não pode se resumir a uma aula avulsa, de disciplina eletiva, em um determinado dia da semana ou do mês. Deve ser algo mais interessante, que motive infância e juventude, mais sensíveis do que a nossa geração que tanto falhou, pois especializou-se em criar desertos. O coordenador do Semeando Água, Alexandre Uezu, sem dúvida forneceria os elementos para que um projeto idêntico ou ao menos análogo tivesse lugar em nosso município. A natureza e as novas gerações agradecem.

José Renato Nalini é diretor-geral de universidade, docente do programa de pós-graduação e autor de "Ética Ambiental" (jose-nalini@uol.com.br)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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