Opinião

Indústria não retomou o nível pré-pandemia

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O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou na semana passada o desempenho da produção industrial em 2022. Infelizmente, houve queda de 0,7%, o sexto número negativo em dez anos. Com este resultado, o setor segue abaixo do nível pré-pandemia (-2,2%) e vai se afastando do pico observado em 2011 (-18,5%).

Os destaques negativos foram: indústrias extrativas (-3,2%), produtos de metal (-9,0%), metalurgia (-5,0%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-10,7%) e produtos de borracha e de material plástico (-5,7%). Por outro lado, a atividade de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis ( 6,6%), exerceu a maior influência positiva na formação da média da indústria.

Em que pese o bom desempenho do primeiro semestre do ano passado, decorrente do incentivo à demanda capitaneado pelo governo, o impacto das medidas adotadas se esgotou e não sustentou o crescimento no segundo semestre.

Neste período, passou a prevalecer a influência da elevação da taxa Selic feita pelo Banco Central. Isso trouxe consequências negativas para áreas mais sensíveis ao crédito, como construção civil, automóveis, linha branca e linha marrom.

Outras pesquisas, no entanto, mostram que alguns indicadores conseguiram permanecer no terreno positivo. De acordo com dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em relação à 2021, o faturamento em 2022 subiu 2,8%, o emprego aumentou 2,7% e o rendimento médio cresceu 2,1%. As vendas na indústria paulista, segundo Levantamento de Conjuntura de Fiesp/Ciesp, avançaram 1,6% no ano passado.

Ainda assim, o setor industrial entrou 2023 em marcha lenta. Como os vetores negativos seguem os mesmos, vai se desenhando um ambiente hostil para a indústria de transformação. Por isso, Fiesp e Ciesp projetam, para este ano, nova queda, agora de 0,5%.

Entre os vetores negativos, os juros altos merecem destaque. Em sua primeira reunião deste ano, no dia 1º de fevereiro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve a Selic em 13,75%. Com isso, diante de uma previsão de inflação de 5,75% para 2023, o Brasil segue nas cabeças entre os países com maior taxa do mundo.

Isso impõe enormes sacrifícios à atividade econômica. Funciona, na prática, como um freio de mão puxado na economia. E, de acordo com o comunicado do Banco Central, o ambiente seguirá assim até o fim do ano.

Porém, o Brasil tem à frente uma agenda inadiável, com a qual o atual governo já se comprometeu e os presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, também acenaram positivamente: a Reforma Tributária e o novo arcabouço fiscal, que substituirá o teto de gastos. São pontos que, se bem implementados, podem ser vetores positivos para a atividade econômica.

O governo deverá apresentar a nova regra fiscal ainda este semestre. Em recente visita à Fiesp, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que as discussões técnicas estão avançando e que o mecanismo será "crível, viável e sustentável no longo prazo".

Na ocasião, Haddad, disse ainda que a Reforma Tributária é prioridade. Na verdade, ela é essencial para o setor industrial recuperar seu protagonismo. Afinal, a indústria de transformação hoje representa 12% do Produto Interno Bruto (PIB), mas contribui com 30% da arrecadação de impostos. Faz-se necessária uma reforma que traga isonomia entre os setores.

Deve-se ressaltar que, pela primeira vez, começa haver consenso na sociedade de que esta é uma agenda inescapável. Ou seja, está se abrindo uma excelente janela de oportunidade para fazer uma mudança estrutural que impulsionará a reindustrialização do Brasil, trazendo inegáveis benefícios para o país.

Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do Ciesp e 1º diretor secretário da Fiesp (vfjunior@terra.com.br)

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