Respeite o lugar

03/02/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Respeite o lugar, ainda que na base ou no topo da pirâmide social.

Ao respeitar aquele que está na base, fará com que cresça e alcance patamar acima, e aquele que está no topo melhorará seu desempenho e fortalecerá o exemplo, despertando interesse dos que estiverem abaixo.

Costumo propor a seguinte dinâmica: "Ao deparar com uma pessoa transpondo degraus de uma escada evolutiva, coloque as mãos nas costas dela apoiando e, a cada degrau que ela subir, você subirá também. Ao fazer o contrário, não ocorrerá efeito gangorra, com a queda de um e subida do outro. Ambos cairão". Simples assim!

Lamentavelmente, não é o que se vê no dia a dia, mas, estupidamente, um querendo derrubar o outro e, quando não alcançam resultado, fazem de tudo para desqualificar aquele que conquistou lugar superior.

Não bastasse o comportamento absolutamente inadequado, há forte incentivo a partir da descabida ideia da supremacia de um sobre outro, notadamente por parcela branca contra os "não-brancos", cujos ensinamentos são transmitidos de forma generalizada, fazendo com que os "não-brancos" ajam iguais aos brancos tal e qual a violência praticada pelos 5 policiais americanos que agrediram até a morte aquele cidadão que teria agido de modo diferente no trânsito.

No caso desses policiais, esqueceram da regra elementar da empatia, provavelmente agindo de acordo com os treinamentos recebidos e idealizados por parcela de brancos, que classificam os negros enquanto delinquentes em potencial. Vale lembrar aqueles policiais paulistas recentemente condenados a pouco mais de um ano de prisão, após um deles pisar no pescoço de uma mulher negra já dominada. Os negros são tratados dessa maneira.

Aqui em nosso querido Brasil, não difere, em especial a partir da base da educação regular, construída e fundamentada no eurocentrismo com reflexos de alto vulto no mercado de trabalho, onde os negros sofrem toda espécie de discriminação; na saúde, onde não recebem tratamento igualitário, fazendo com que suas patologias sejam literalmente ignoradas e, não canso de exemplificar, a menor ministração de anestésicos às parturientes negras que as brancas; no judiciário, os negros recebem as penas mais severas que os brancos em praticando delitos idênticos; na educação formal, com a omissão dos grandes feitos e a alegação de que são pessoas desprovidas de preparo, condições e sujeitos a prática de delitos, apenas e tão somente, em razão da cor da pele; na religião, onde suas divindades e práticas são demonizadas, entre tantos outros absurdos, quase inenarráveis.

Nos meus primeiros dias na academia (nos idos de 1978), ao apresentar um trabalho denominado "Democracia Racial", abordando situações dessa natureza, o professor ao avaliar anotou indagando da solução, que se restringe, por óbvio, no respeito à pessoa e à dignidade que todo cidadão e cidadã tem direito, vez que ao respeitar não só a questão racial, mas enquanto ser humano e suas limitações, podemos afirmar, sem medo de errar, todas essas maldades seriam superadas.

Ao respeitar o potencial e as limitações de cada qual, certamente, todos ganham, mas, lamentavelmente, o medo da perda de privilégios acirra as desigualdades e não se produzem políticas públicas, pois que aquelas pessoas que têm o dever de proteger e produzir pacificação social, não contam com pessoas diferentes ao seu redor e, por não os vir a seu lado, são passadas por inexistentes.

Lembro muito bem de uma campanha eleitoral aqui em Jundiaí, onde um forte candidato a prefeito, ao apresentar seu plano de governo, não fez contar sequer uma única linha aos idosos, pessoas com deficiência ou negros. Ao questioná-lo a respeito, o candidato afirmou que o idealizador do tal plano "esquecera", ocasião em que, eu - sem titubeio - afirmei que essas pessoas não foram lembradas porque não integravam o relacionamento deles. É o que no mais das vezes acontece, onde se pensa política pública a partir da própria referência.

A solução é simples: basta incluir e respeitar em igualdade de condições e toda a sociedade ganha, ressaltando que contamos com talentos vultosos, ávidos por provar potencial.

Eginaldo Honorio é advogado, doutor Honoris Causa e conselheiro estadual da OAB/SP (eginaldo.honorio@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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