As ICTs e a inovação

01/02/2023 | Tempo de leitura: 3 min

O Brasil tem seis players que atuam fortemente no desenvolvimento de inovação. Para aqueles que nasceram depois dos anos 2000, três deles são óbvios: startups, aceleradoras e investidores. Os mais vividos, nascidos antes de 1980, devem se lembrar das incubadoras e da excelência da pesquisa e desenvolvimento internos de grandes empresas, como 3M. Em 1990, com as leis de incentivo fiscal, outro player tornou-se relevante, mas que até hoje não salta aos olhos das mídias, são as ICTs.

São mais de 300 Instituições Científicas e de Inovação Tecnológica (ICTs) no Brasil, e 64% deles são públicas. Segundo estudo da Deloitte de 2020, faturaram em 2019 R$ 24 bilhões e empregam cerca de 150 mil pessoas altamente qualificadas. Na outra ponta, segundo a Forbes, em julho de 2022, o Brasil foi o décimo país com maior número de unicórnios (startups que valem mais do que US$ 1 bilhão), chegamos em 17 e avaliadas juntas somam: R$ 240 bilhões.

Antes de chegarmos à conclusão de que startups são dez vezes mais relevantes financeiramente para a economia do que as ICTs, é bom lembrarmos que valuation significa potencial de faturamento. É uma métrica muito mais válida para o mercado financeiro do que para a economia em si. É como se a startup fosse um produto, os investidores fossem os consumidores e o valuation é o preço. Normalmente uma startup que vale R$ 10 milhões costuma faturar entre R$ 1 e R$ 3 milhões e projeta alcançar R$ 10 milhões em três anos. Logo, por cálculo simples, podemos dizer que as startups trouxeram para a economia cerca de R$ 80 bilhões. Três vezes mais do que as ICTs, mas ambos são players relevantes e com funções bem diferentes na cadeia de inovação.

Nos Estados Unidos é comum que um produto nasça da relação próxima entre universidades e grandes empresas. No Brasil, isso raramente acontece, ao contrário, em muitas universidades é dado como prejudicial para o andamento da pesquisa. De fato, a importância da chamada pesquisa básica, que é independente das demandas do mercado, é gritante. Imagine se só aquilo que fosse fator gerador de lucro fosse pesquisado. Por conta disso, as universidades são avaliadas a partir do número de artigos publicados em revistas científicas. É o que inclusive define o nível de recursos que essa instituição recebe. Para corroborar, as empresas brasileiras são, na sua maioria, filiais de grandes multinacionais e não veem valor no desenvolvimento da inovação aqui.

Nosso ecossistema se adaptou a essa realidade. O cenário é de muita riqueza em pesquisa básica, mas somos, como nação, muito pouco relevantes em tornar pesquisa em produto. É por isso que tanto ICTs quanto startups se sobressaem. As startups porque na sua maioria não dependem nem de grandes empresas e nem de universidades. Seu ambiente é outro: aceleradoras, investidores. Já as ICTs são pontes entre esses dois mundos. Para que uma descoberta tecnológica seja inserida numa linha de produção industrial, precisa ser testada em ambientes simulados, ser certificada pelos órgãos reguladores (como ANVISA e Inmetro), ter viabilidade econômica e técnica em escala. Esses são alguns exemplos do papel das ICTs na cadeia de inovação do Brasil.

Elisa Carlos é engenheira, yogini, especialista em inovação e head de operação (elisaecp@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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