Acorde, acadêmico! O direito mudou

29/01/2023 | Tempo de leitura: 3 min

A maior parte das Faculdades de Direito parece não ter acordado para a profunda mutação imposta à sociedade pela tecnologia da chamada Quarta Revolução Industrial e do quanto isso afetou o direito. Continua a transmitir aos alunos o mesmo conteúdo coimbrão, disciplinas compartimentadas, que não se conversam. Esquecendo-se de que o transplante do modelo de Coimbra em 1827 já possuía mil anos de experiência!

O resultado é que os formados em direito, se não tiverem curiosidade e não cultivarem o autodidatismo, procurando atualizar-se, pouco terão a fazer no sexto ano, ressalvada a permanência naquilo que faziam antes da graduação. O diploma de direito em nada os auxiliará a galgarem posição superior, como acontecia no século 19 e em parte do século 20.

Os "nichos de excelência" estão atentos a essas transformações. Investem numa formação transdisciplinar. Sabem que informática, eletrônica, telemática, cibernética, estatística, economia aplicada, são hoje ferramentas imprescindíveis a quem queira vencer numa carreira jurídica suficiente para a sobrevivência digna do profissional e de sua família.

A Escola de Direito da FGV em SP detectou vinte e sete novas profissões jurídicas. Dentre elas, a de coordenador de proteção de dados, business intelligence, analista de dados jurídicos e legal designer, aquele que cria e remodela serviços jurídicos mediante uso de design que facilita a comunicação jurídica.

O mercado precisa de advogados muito além daqueles que decoraram artigos dos códigos. Isso o Google faz imediatamente, incluindo as constantes alterações legislativas. O que nem sempre acontece quando ainda se usam velhas e surradas apostilas. Exige-se, assim, conhecimentos da engenharia da computação, que organizam fluxos internos, auxiliam o acompanhamento de professos judiciais e sistematizam base de dados facilitadora das consultas. Estatística e programação também são bem-vindas.

Para aguçar sua curiosidade, acadêmico, faça uma busca nas redes sociais, em sites jurídicos, nas plataformas de literatura acadêmica e pesquise, por exemplo, "novas profissões jurídicas", "novas funções jurídicas", "futuro do direito", "futuro de profissões jurídicas", "internet e direito", "empresa transnacional e direito", "cibernética e direito". Você verá que muita gente já acordou. Espero que você também tenha despertado para os desafios que o aguardam no sempre esquecido sexto-ano. Sempre fiquei penalizado com a preocupação do acadêmico, a partir do quarto ano do bacharelado, com as festas de formatura. No meu tempo – minha idade permite falar em "meu tempo" – elas eram artesanais. Nós mesmos formávamos uma comissão e cuidávamos da celebração.

Hoje as empresas cobram pela organização. O formando vai como convidado. Depois disso, começa a verdadeira luta. Para que me serve este diploma?

A verdade é que o aprendizado não pode parar. O bom profissional deve estudar a vida toda. Quem para, na verdade retrocede. Procure ver o que os "nichos de excelência" oferecem. A Uninove, por exemplo, tem seus cursos de pós-graduação em sentido estrito com o intento de impactar a realidade. Não é mais do mesmo, só doutrina e elucubrações estéreis. Todo o trabalho realizado pelos mestrandos e doutorandos vai solucionar problemas concretos da nossa realidade.

Enfim, o mundo mudou, o direito mudou e quem não se deu conta, está como a Carolina do Chico Buarque: "só Carolina não viu...".

José Renato Nalini é diretor-geral de universidade, docente de pós-graduação e Secretário-Geral da Academia Paulista de Letras (jose-nalini@uol.com.br)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.