Biomas: exemplo a seguir

19/01/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Embora se afirme que a COP-27 realizada no Egito em novembro último não tenha gerado resultados tangíveis, há pelo menos uma boa consequência. A criação da biomas, empresa lançada na ocasião. Reúne seis grandes empresas: Santander, Itaú-Unibanco, Marfrig, Rabobank, Suzano e Vale. Sua proposta é desenvolver ações coordenadas em larga escala para a preservação da biodiversidade brasileira nos próximos vinte anos.

Seu objetivo é proteger e restaurar quatro milhões de hectares de florestas nativas, na Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica. Isso significa proteção sobre um território equivalente ao Estado do Rio de Janeiro ou toda a área da Suíça. Como resultado, poderão se livrar da extinção cerca de quatro mil espécies de animais e plantas.

Considerada empresa de impacto, pretende contribuir para a solução da crise climática, integrando a biodiversidade e gerando valor para as comunidades que habitam as regiões incluídas. Sem escala, a complexa e difícil questão climática, origem do aquecimento global que ameaça qualquer espécie de vida no planeta, não caminhará no sentido da mitigação dos efeitos e muito menos na solução do problema.

Essas empresas já promoviam programas tópicos, localizados, e agora têm expertise para que a experiência se potencialize e atinja outras dimensões. O mais difícil é a restauração. Para isso, é necessário estabelecer parcerias e pensar fora da caixinha. Inovar de fato.

Todos são chamados a participar dessa verdadeira epopeia. Poder Público, Universidade, sociedade civil, academia, institutos de pesquisa, Terceiro Setor. É urgente intensificar os processos de pesquisa e tecnologia florestais, para que o plantio e restauro da floresta nativa passe do projeto para a realidade.

Talvez fosse importante, desde já, fomentar cursos para técnicos responsáveis pela coleta de sementes, produção de mudas, formação de viveiros, noções de botânica, agricultura florestal e outros fazeres no manejo operacional da recomposição da cobertura vegetal exterminada.

Anuncia-se o aporte de vinte milhões de reais por empresa, o que totalizaria cento e vinte milhões. Mas esse valor se destina a custear despesas administrativas. Aí o perigo. Criam-se estruturas burocráticas e estas podem inibir o cerne do negócio. Sempre fico receoso quando se fala em empresa com objetivo específico. Assim foi criada aquela que exploraria a ligação ferroviária entre São Paulo e Rio. Era para a Copa de 18, lembram-se? Só que era empresa estatal – e ainda existe! – enquanto sequer um metro de trilhos foi colocado no caminho original.

A vantagem da Biomas é que ela é formada pela iniciativa privada. Aqui não existe o Erário para suprir todas as necessidades e do qual se retiram fundos para o essencial e para o supérfluo. Ainda quando as tetas da República estejam extenuadas. Dinheiro de empresário não aguenta desaforo. É a esperança de que a Biomas funcione.

Mas seria necessário multiplicar essa experiência, em nível local. Nada como invocar o lema ambientalista da primeira hora, na década de setenta: "Pensar globalmente, agir localmente". Por que o município não congrega empresários interessados na questão do aquecimento global para um projeto semelhante? Para recompor as chagas abertas na Serra do Japi. Ou para formar outros parques municipais. Ou para manter escolas destinadas a técnicos em agricultura ecológica? Seria muito bom para o ambiente e para nossa gente. Quem se interessa por isso?

José Renato Nalini é diretor-geral de universidade, docente de pós-graduação e secretário-geral da Academia Paulista de Letras (jose-nalini@uol.com.br)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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