Arrumando a Casa!

14/01/2023 | Tempo de leitura: 3 min

"Com a recuperação do Ministério da Cultura que se recupere também a arquitetura e o urbanismo em todo lugar onde for necessário."

Essa frase está no último artigo do dia 31/12/2022 que escrevi sobre o mau uso que se dá de arquiteturas muito boas, e parecia uma premonição do que aconteceu em 8/1/2023. Falei, repito e reforço da cegueira sobre os bens arquitetônicos e históricos. Essa cegueira, que chamei, ficou gritante com o ataque de domingo. Não parecia que sabiam o que estavam fazendo e tenho certeza que não sabiam do valor do conjunto que pretendiam detonar.

Com o intuito de demover o governo se "demole" o palácio. Isso é estranho, feio e incompreensível. Até na ditadura tudo foi preservado, tudo continuou em uso. Mesmo sabendo que o arquiteto era comunista não foi alterado o uso normal dos palácios. Mesmo dissolvido o congresso, preservou-se o edifício. Agora, mais de 50 anos depois, superados aqueles tempos sombrios, acontece essa atrapalhada que revela, sobretudo, o desconhecimento, a falta de cultura, a falta de aulas e da permanente valorização da cultura como economia e identidade nacional. Nas matérias ao vivo sobre o equivocado ataque terrorista era frequente a atrapalhada descrição que jornalistas faziam dos objetos que foram danificados. Eles mesmo não conseguiam descrever com a devida e correta identificação; falhas e até erros nos materiais e autorias foram comuns.

O país em reconstrução como novo lema do governo Lula agora é reforçado com a necessária restauração dos ataques ao patrimônio cultural que foi peça de descarga do ódio e do ataque assustador à democracia.

Para a restauração não faltam apoios e ofertas de instituições e especialistas. Vai ficar quase tudo bonito, mas infelizmente é o primeiro ato emergencial do IPHAN que poderia já estar retomando a rotina e abrindo espaço para novos projetos, tombamentos, restaurações, programas culturais e as análises e deliberações da lei Rouanet, nos processos acumulados.

Era o tempo também que o novo presidente do IPHAN, Leandro Grass, precisaria para tomar conhecimento de como vai tratar com o Instituto e sua equipe de pareceristas, arquitetos, historiadores e restauradores de excelência, que não o decepcionarão em suas decisões, pronunciamentos e em tudo que os cargos exigem. A pasta conta com nomes como o de Andrey Schlee como diretor de patrimônio material e Dayvesson Gusmão como diretor de patrimônio Imaterial. Leandro é professor, sociólogo, gestor cultural pela Organização dos Estados Ibero-Americanos, ex-pesquisador do Observatório de Políticas Públicas Culturais da UNB, integrante da Associação Amigos do Centro Histórico de Planaltina e na Câmara Legislativa presidiu a Frente Parlamentar pela Promoção dos Direitos Culturais e foi vice-presidente da Comissão de Educação, Saúde e Cultura.

A lei Rouanet, que foi tratada com lentidão, agora precisa ser rejuvenescida e praticada. Novos projetos precisam acontecer, conjuntos precisam aparecer, novos lugares precisam sair do esquecimento para serem valorizados, usados e apreciados provocando uma economia vigorosa do turismo no país, especialmente no estado de são Paulo.

A beleza vai voltar a aparecer!

Eduardo Carlos Pereira é arquiteto, foi conselheiro do CONDEPHAAT por seis anos e presidente do COMPAC (edupereiradesign@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.