Esperanças renovadas

06/01/2023 | Tempo de leitura: 3 min

A chegada desse novo ano realimentou as esperanças.

Quem me conhece sabe o quanto sou otimista. Na hipótese e com destaque à saúde, que, após a vacinação em massa, independente da renitência de um grupo que insistiu em não atender às recomendações dos especialistas, pagando muito caro com a perda de valiosas vidas e experimentam as sequelas do descaso.

Sou e estou com as esperanças renovadas e direcionadas às necessárias mudanças na educação regular a partir da mais tenra idade, no que diz respeito à promoção da igualdade enquanto ser-humano e diferente na origem étnica.

Não me comparo a Martin Luther King que, com toda luta contra desigualdades, não viu Obama ou Luiz Gama, que não viu a abolição, pois, apesar do otimismo, não terei tempo para sentir relevantes mudanças, todavia tenho a - sem falsa modéstia - sensação de ter contribuído com a minha parcela, com essas crônicas e postura enquanto cidadão negro de origem - para variar - pobre.

Já disse aqui que ser negro no Brasil é muito, mas muito difícil mesmo, em grande parte pela educação formal imposta a toda pessoa brasileira, a partir da definição de "raça", incutindo a estúpida ideia da "supremacia branca", fazendo com que os negros sejam classificados nos últimos lugares dos destinatários das políticas públicas, tidas por universais!

Interessante destacar que toda vez que se fala em "raça", os brancos não aparecem, deixando até transparecer que nem raça têm, vez que o termo é utilizado na construção e entrega de políticas públicas única e exclusivamente para o trato dos "diferentes" dos brancos. Reparem também que, diante dos comprovados crimes praticados, a impressão deixada é que se trata de "crime perfeito"!

Vejo como de suma importância ressaltar a riqueza cultural em sentido amplo ostentada pelo povo negro, maldosamente excluída e ignorada pelos não negros, sendo certo que no Brasil, por exemplo, o problema não é deles (negros) mas dos brancos que, em grande parcela, não medem esforços para não socializar, sob a falsa ideia do medo da perda de privilégios.

O filósofo Frantz Fanon disse que "os brancos racistas criaram o negro e os negros criaram negritude" ("negritude" é o sentimento de orgulho da identidade negra e seus valores culturais).

A não inclusão gera danos irreparáveis ou de difícil reparação na medida em que o distanciamento acarreta desconhecimento da realidade ou demanda específica, como, por exemplo, o recém ocorrido no atual Governo Paulista, no qual o governador, após ouvir pessoas com deficiência, recuou na ideia de extinguir a Secretaria da Pessoa com Deficiência. De mesmo modo, a robustez do discurso do Dr. Silvio Almeida (Ministro dos Direitos Humanos), mencionando os segmentos sociais deliberadamente ignorados ao longo do tempo, exatamente pela não presença desses personagens nas proximidades das autoridades, seguido de muito perto pela Ministra da Saúde, incluindo indígenas em seus quadros visando maior atenção às demandas específicas do segmento. O combate às desigualdades exige inclusão.

Retomando a questão Educacional, não há dúvidas que se trata de ferramenta extremamente útil ao combate do preconceito e racismo a partir da apresentação da verdade absoluta e a desconstrução da ideia disseminada de que, por exemplo, os negros são inferiores aos não-negros.

A todo o momento presenciamos atos ofensivos em todas as áreas, quer esportivas, comércio, propagandas, judiciário, policiais, medicina, mercado de trabalho, religião e etc, com a falsa ideia dos festejados filósofos, sustentando que negros eram "coisas", e que "nem alma tinham".

Exemplo interessante se vê no campo da mitologia, onde o tratamento dado ao deus nórdico Thor é diametralmente oposto a Xangô, ambos "deuses do trovão", confirmando que o racismo religioso está arraigado nas estruturas.

No quesito saúde, não podemos esquecer do PCRI-Programa de Combate ao Racismo Institucional (2005), vez que na Saúde se constatou e constata tratamento diferenciado em razão da cor da pele do paciente, verificando a ocorrência do racismo e violência obstétrica.

Esperanças renovadas.

Eginaldo Honorio é advogado, doutor Honoris Causa e conselheiro estadual da OAB/SP (eginaldo.honorio@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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