O ano de 2023 começou antes de 2022 terminar, do ponto de vista econômico. Com a necessidade de ajustar o orçamento da União à realidade das despesas (Auxílio Brasil de R$ 600, recomposição da farmácia popular e das bolsas de ensino superior, entre outros pontos), o governo eleito em 30 de outubro teve de entrar em campo para viabilizar os recursos antes mesmo de tomar posse.
A saída foi encontrar uma alternativa legislativa, juridicamente consistente, para gastar além do teto de gastos de modo que o presidente Lula pudesse cumprir as promessas feitas durante a campanha.
Este lance foi o pontapé inicial em um jogo que promete muitos mais pela frente. A economia brasileira, que agora está sob o comando do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem o desafio de enfrentar uma soma de ventos contrários.
De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), mais de um terço da economia global apresentará queda em 2023 ou apresentou em 2022 (os dados definitivos do ano passado serão conhecidos em alguns meses).
É elevado o risco de recessão nos EUA e na Zona do Euro. Uma inédita escalada inflacionária em 40 anos nos países desenvolvidos levou os principais Bancos Centrais a elevar, simultaneamente, as taxas de juros para combater o aumento dos preços.
A crise energética na Europa, porém, pode adiar o processo de desinflação global, exigindo uma postura ainda mais agressiva dos Bancos Centrais. O cenário mundial marcado por forte desaceleração poderá resultar em redução dos preços das commodities - a depender dos riscos geopolíticos -, prejudicando o Brasil, que é grande exportador.
De positivo, pode-se destacar que as cadeias de produção caminham para a normalização, após o rompimento desencadeado pelas restrições relacionadas à pandemia e à guerra na Ucrânia. O início da flexibilização da política de Covid zero na China também indica que o desarranjo não tardará a ser superado.
Neste ano, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, porém, crescerá bem menos que no ano passado, quando foi impactado pelas medidas de transferência de renda do governo (Auxílio Brasil, liberação do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e antecipação do 13º dos aposentados). A expectativa do mercado é de crescimento de 0,75% em 2023.
Isso também é reflexo do aumento dos juros que deverá atravessar o ano em dois dígitos (estima-se que terminará 2023 em 11,75%). Desde o segundo semestre de 2022, os efeitos dos juros altos já eram sentidos nos segmentos de bens mais sensíveis ao crédito, como eletrodomésticos, veículos automotores, além do setor imobiliário. Em 2023, a política monetária contracionista deverá ter ainda mais impacto na vida real.
O pano de fundo da incerteza na economia, porém, deverá ser a questão fiscal. O governo tem de apresentar um novo arcabouço, em substituição ao teto de gastos, até agosto. Até lá, será constantemente testado pelo mercado.
Para a indústria, há oportunidades. O governo tem declarado que fará da reindustrialização do país um norte da política econômica. Também tem dito que a Reforma Tributária, com a criação de um Imposto sobre Valor Agregado (IVA), será prioridade.
Essas agendas, aliadas à transição para uma economia de baixo carbono e sob novo paradigma tecnológico pavimentado pelas tecnologias 4.0, se apresentam como eixos centrais de uma pauta que o país tem de abraçar para alcançar o desenvolvimento sustentado com bem-estar social.
VANDEMIR FRANCESCONI JÚNIOR é 2º vice-presidente do Ciesp e 1º diretor secretário da Fiesp (vfjunior@terra.com.br)