Um abraço, 2023!

01/01/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Finalmente, chegou 2023! O 2022, tão emblemático, foi um ano atípico. Celebrar o centenário da Semana de Arte Moderna, o bicentenário da Independência, os noventa anos da Revolução Constitucionalista de 1932, tudo já prenunciava um período singular. Mas foi também o ano das eleições e isso contaminou o convívio em todas as esferas.

Famílias se dividiram, amizades foram estremecidas, cisões e cizânias em ambientes em que, até então, não se enfrentara fenômeno tal. Ao menos, com tamanha intensidade. O fanatismo exibiu-se de forma surreal. Inacreditável a constatação de quantas exteriorizações ele é capaz. Muitas delas, efetivamente patológicas.

O envolvimento dos brasileiros na "pátria de chuteiras" arrefeceu um pouco os ânimos. Que bom recuperar o verde-e-amarelo para festejar a Pátria, não para exibir ideologia. Resta administrar as sequelas, que não são poucas, nem insignificantes.

Mas o principal é saber que se inicia um novo ciclo. Queira-se ou não, 2023 pode ser um ano menos sombrio para o Brasil. Verdade que a situação econômica não é aquela relatada pelas "Polianas" da República. Uma nação com trinta e três milhões de famintos não tem motivo para se orgulhar de nada. Mas não é menos verdadeiro que o Brasil detém potencial que, bem cuidado, poderá abrir as portas ao vultoso investimento estrangeiro apto a aplicar recursos preciosos na inadiável política da descarbonização.

O Brasil é um celeiro de possibilidades na economia verde. Detém percentual notável de empregos na indústria da venda de créditos de carbono. Se houver desmatamento zero e iniciativas no reflorestamento, mandará recado aos investidores que dispõem de setenta trilhões de dólares, de que seu dinheiro estará seguro e crescerá se vier para o Brasil.

Esse espírito precisa contaminar todas as pessoas e todas as esferas de convívio. O único grande e real perigo que ronda a humanidade é o aquecimento global. Os maus tratos infligidos ao planeta Terra o tornaram indefeso, incapaz de responder, com seus próprios recursos, às tragédias proporcionadas pelo abuso, pela inclemência, pela ganância, que está mais próxima da ignorância do que a própria rima que as torna análogas.

Cabe invocar o lema inicial do ambientalismo – pensar globalmente, agir localmente. Não há quem não possa contribuir para a recuperação do equilíbrio ecológico. Praticar no âmbito doméstico a logística reversa e a economia circular. Não transformar o mundo numa enorme lata de lixo. Chega de imundície e de irresponsabilidade.

Utilizar cada espaço de terra para semear, acompanhar a germinação, cuidar de repor, na Pátria desfalcada e violada, a cobertura vegetal que a protegeu durante milhões de anos e que está fadada a desaparecer, se continuar a cruzada do extermínio do verde.

A Terra necessita de um trilhão de árvores para voltar a ser o que era antes da grande tragédia dendroclasta. O Brasil precisa de ao menos um bilhão de árvores nativas. Se cada brasileiro plantasse ao menos uma, esse número se reduziria.

Também é o momento de reflexão e de indagar se de fato somos cristãos. Invocamos a nossa condição de integrantes de uma civilização formada à luz dos ensinamentos do Cristo. Aquele que procurou os excluídos, os desprezados, os pecadores, as vítimas do preconceito. Alguém que pregou o amor como o maior mandamento. E que não se empolgou com os detentores do vão e efêmero poder terreno.

O que estamos fazendo para reduzir as desigualdades? Qual a nossa contribuição para a construção do "Reino de Amor" prometido há mais de dois mil anos? É um bom exercício espiritual para todos nós. Feliz 2023 para todos!

José Renato Nalini é reitor, docente do programa de pós-graduação e autor de "Ética Geral e Profissional" (jose-nalini@uol.com.br)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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