Mais arquitetura em 2023, mais arte e mais qualidade na cidade

31/12/2022 | Tempo de leitura: 3 min

Sobre a habitação social e saúde, arquitetos estão à margem dos governos, estão fora dos contextos que são inerentes ao conhecimento que foram formados. Fora dos planejamentos e estruturas urbanísticas, fora dos partidos políticos e dos últimos governos.

Se Juscelino fez da arquitetura seu maior troféu e marketing, tudo parou ali. A evolução da arquitetura em permanente movimento não se espalhou, nem com a colaboração de Niemeyer (que não houve), nem com o reconhecimento dos políticos pela especial atenção que os espaços da cidade precisam receber.

Marginalizados e não reconhecidos arquitetos estão trabalhando nos interiores, sobretudo na decoração de residências apartamentos e clínicas onde o mercado desses segmentos exige qualidade.

A maioria deles são hoje desenhistas de interiores. Pesquisa do Conselho de Arquitetos do Brasil o CAU identificou que a maior porcentagem deles se apresenta com esse trabalho de decoração. O que fica claro que não estão sendo convocados para soluções em áreas públicas. O CAU se esforça para fazer propostas, quer introduzir o arquiteto no SUS, para, entre outras coisas, melhorar a saúde consequente da habitação inadequada.

O uso dos espaços bons públicos, lugares de bons projetos, com raras e ótimas exceções, tem sido cobertos por atrapalhadas gambiarras para adequação de novas funções, placas de toda ordem com comunicações que não vão funcionar nem terão eficácia com a poluição que produzem. A arquitetura boa não é ressaltada, o espaço não oferece o que tem de melhor na sua concepção, cegados pelo mau uso, pela sobreposição de elementos sem critério para atender a necessidade atual. Escondem arquiteturas que precisam ser valorizadas.

A poluição de informações confusas e de toda a ordem, penduricalhos, soluções de arranjos de usos péssimos para atender a necessidade imediata que são mandados fazer por qualquer um que tenha autoridade para mudar e dizer que precisa ser do jeito que ele quer. 

Visitei a antiga casa do Arquiteto Ademar Fernandes, próximo ao Bolão, e ali estava o mais eloquente exemplo desse panorama. A casa que pretendia ser ousada e contemporânea (década de 1970) mostra o investimento criativo técnico e estético do autor. Mas o uso atual não levou em conta os valores de um bom projeto, do que os arquitetos fizeram. Arquitetura do concretismo paulista, uma marca que esses edifícios adquiriram a partir de Vilanova Atrigas, lembro aqui de Carlos Cascaldi que tem família e projetos aqui e foi socio de Vilanova Artigas .

O uso da casa, que tem como lema o acolhimento, tem na verdade uma quantidade de grades logo de cara que se misturam ao projeto de origem, impossibilitando a leitura e a fruição deste espaço. É possível ver a qualidade da casa, mas confundida por intervenções sem critérios e sem interesse por um uso do espaço com qualidade.

Mais radical é o que se observa no Centro! Quanto se perde nessas "transformações necessárias”? Usos temporários de edifícios são cada vez mais uma praga para arquitetura do Centro de Jundiaí. Vejam o comércio que transforma qualquer lugar em galpão, depósitos de mercadoria, toda parede atrapalha tudo sem arquitetura. Fachadas somem atrás de plásticos amarelos, vermelhos, pretos, e o que for mais forte prevalece. Sem controle e sem arquitetos o centro comercial piora a cada dia. A extensão do estrago parece incontrolável.

Espera-se, com a nova proposta para o Centro, que isso mude. Não acredito, porque sem regras de uso bem estabelecidas não se modifica a disputa pela venda a qualquer preço, que para isso estraga não só os edifícios, mas bons projetos de arquitetura.

Com a recuperação do Ministério da Cultura, que se recuperem também a arquitetura e o urbanismo em todo o lugar onde for necessário.

Eduardo Carlos Pereira é arquiteto (edupereiradesign@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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