Quem quer faz a diferença

29/12/2022 | Tempo de leitura: 3 min

A vulnerável situação do planeta exige atuação solidária individual e coletiva. É muito sério conscientizar a cidadania de que o verdadeiro titular da soberania é o povo, conjunto dos cidadãos do Estado. O governo é uma entidade ancilar: subalterna à vontade da população.

Nem sempre o governo está sensibilizado para lidar com os grandes desafios e perigos que rondam a humanidade. O seu foco é muito mais restrito e imediato. Infelizmente, a política partidária no Brasil converteu-se num polvo tentacular que primeiramente se serve do sistema para finalidades personalistas e, portanto, egoísticas. Gasta-se muito com o sustento de uma estrutura que só cresce vegetativamente e, enquanto isso, as grandes questões ficam relegadas para gestões futuras.

O horizonte do mandatário é o de seu mandato, atento à matriz da pestilência chamada reeleição. Por isso não há projetos de longo prazo. Esses não dão votos. Explica-se, dessa forma, o insucesso do saneamento básico e da educação. Contra esta milita uma circunstância ainda mais grave: povo educado é crítico; fiscaliza e reivindica; não perde a capacidade de indignação. É melhor manter as escolas ocupadas com o adestramento da infância e juventude, fazendo-as decorar informações que são obtidas de imediato, mais atualizadas, coloridas e musicais mediante um clique num mobile. Negligencia-se o trato com as competências socioemocionais. O resultado é a violência dentro da escola, o desrespeito ao professor, o bullying e lamentáveis episódios que recrudescem no país, em nefasta repetição do que acontece nos Estados Unidos.

Copiamos os ianques também no amor às armas. A quantidade de instrumentos letais disponíveis – e que vão se destinar às facções criminosas – é importante concausa para o crescimento dos crimes cruentos.

Não se leva a sério a regularização fundiária, responsabilidade primordial do município, que – na pressa de cuidar de eleições – deixa de organizar um cadastro confiável e perde arrecadação com o IPTU que não entra no erário local.

Nada obstante o descaso em relação à mais relevante nuvem plúmbea que põe em risco a subsistência da aventura humana no planeta, há municípios que fogem à regra geral da inércia e servem como exemplo e inspiração para os que se satisfazem com a nutrição destinada à própria burocracia.

A inércia é um fenômeno recorrente. Continua-se a fazer aquilo que sempre se fez. Coleta de lixo, a consumir preciosos recursos que poderiam ser destinados à alimentação dos famintos, à remuneração mais condigna dos professores, ao urgente projeto de renascimento das nascentes, na despoluição dos cursos d'água, na construção de moradias e no saneamento básico. Este, como pressuposto a uma saúde que se possa chamar assim, sem erro de se mergulhar numa falácia.

Por isso é que não se investe numa verdadeira educação ambiental. Aquela que faria a população adotar práticas de logística reversa ou de economia circular. A maioria dos munícipes desconhece os gastos com a coleta de resíduos sólidos. Se tivesse noção, procuraria poupar, tivesse a certeza de que a economia redundaria em melhores serviços.

Municípios inteligentes já instituíram a "moeda verde", que remunera a coleta individual e coletiva de objetos recicláveis, mantém as vias públicas menos poluídas e poupa dinheiro do povo. Quem quer faz a diferença. Quem não quer, mantém coleta e lixões, testemunho de iletramento ecológico.

José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e autor de "Ética Ambiental" (jose-nalini@uol.com.br) 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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